digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, novembro 27, 2018

Água e estrela


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Sou-te e em ti sou-me. Em ti sou e em mim despejas-te como o rio da vida na direcção de ir ao local certo por nós sabido desde o teu primeiro ver-me e meu tremor.
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Tenho-te caída sobre o peito e igual em ti. Tens-me como sempre no amor incansável da água que transborda e da que falta.
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As noites afastadas não se juntam por dor ou passado. As noites de acolher são de tudo e sempre.
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Não duvides do teu amor nem do meu. Assim do prazer, além do mais em todo – completo a ti de quem não duvido amor, além do mais em todo – não duvides.
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Fogo impensável por ser rio, incansável pela vontade do muito-amar.
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Amar-te é amar-me – os dois de tudo – daí revela-se igual.
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Por tantas viagens é esta agora o destino. Isso diz a luz e a voz da certeza-certa-celestial. Aliás mais.
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A multidão dos abraços furacãoza quem-engano-erro-desamor-olhos-coração-mente sopra as maldades da inveja e da matéria. Como seja ferro, o rio fará ferrugem.
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Nunca desistirei do destino. Tu é igual – sei porque as dores se evaporaram e choveram como alegrias.
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O destino corrige as margens da água enganada no leito. O mar só é mar se rio lhe chegar.
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Ser o destino do outro é o nosso destino. Só precisamos seguir a estrela e a ela chegar.

sábado, novembro 10, 2018

Gente viva

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Há dias em que se morre um bocadinho.
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Esses bocadinhos de morte é que são morte. A outra não existe.
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Há que sobreviva ao amor? Ao perdão? Por aí, por aí.
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Quanto se morre quando se mata. Assim, sem perguntar a resposta, devolvendo questão.
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Das palavras ao ouvido-coração-cabeça e até no movimento do gesto, o jeito de matar e vontade ou fome ou jejum.
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Hoje morri um bocadinho e em mim caíram bocadinhos de mortes.
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Não morreu ninguém. Morremos e morrem-se. Nas-das doenças do cuidar, onde se é frágil e o colo até talvez baste. Ou bruto e o regaço até talvez chegue. Da fealdade do desencanto.
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Vejo mortos diariamente e julgo a certeza de terem vida. Esta e não a do após o corpo desfalecer.
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A morte de que falo des-é corpo e des-é tempo e des-é tudo.
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Os dias da sobrevivência, não pensei o que são, se do corpo se do fluído ou se do plasma ou se.
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Não se pensa para se sentir nem para isso existe o corpo.
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Quando digo morte falo da ausência que se descobre, da perda sem aviso.
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É disso, a morte.
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Porque, de resto, a morte não existe.
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Vemo-nos por aí, daquém e dalém.
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Havemos de ir para voltar e por lá de modo gémeo.
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Vivos, sempre.
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É fácil inconseguir aclarar a mediunidade, nem sei se maior ou menor revelar da morte.

sexta-feira, novembro 09, 2018

Cristal negro – oitenta anos

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De nove para dez de Novembro de 1938.
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Pensa em quem és hoje, ainda que te lembres da última vida.
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Se significar – porque significa – mais do que acomodar a culpa, plasma a consciência e faz, a coisa como conseguires, para o pensamento não manchar igual à memória.
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Se significar – porque significa – mais do que acomodar a dor, plasma a dor-mortal e faz, a coisa como conseguires, para o pensamento, não esquecendo, te apazigue a memória.
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Noite de Cristal é uma expressão poética, cheia de negrume. É antes negrum – aquela ausência da luz, desfazendo o «E».
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É expressão tenebrosa!
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O cinzento das fotografias não mostra o cinzento-verde nem o negro furioso do assalto furioso.
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Nem o amarelo da estrela.
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Pensa no que não queres.
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Que o tido de outrora seja uma arma para pedires perdão.
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Pensa em quem és hoje, ainda que a estrela te esteja pregada.
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Tenta lavrar o teu pedido, em paz, para o perdão.
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Tenta perdoar.
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Um dia serão capazes.
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Talvez ainda por mais uma vida, para.
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Neste momento, faz a paz. Talvez lembrando-te de quem foste.
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A memória inesquecendo – o inesquecível – para outrora não ser a qualquer hora ou mais uma vez.
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Não volte a acontecer.
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quarta-feira, outubro 31, 2018

Flores

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Pétala a pétala a pétala e a pétala. Pétalas-me a pétalas-me a pétalas-me e a pétalas-me.
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Já nus, olhando-nos, cantamos em conto as pequenas folhas de malmequer e bem-me-quer, sabendo da vida o prazer.
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Sabendo, sabor e sabedoria, vamos. Entende-se, onde fomos e iremos sempre que.
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Vendo-te, ui. Vendo-me, ui.
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A vida é assim vai-e-volta.
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Dessa maneira aiando, naquela dor do prazer, do que somos em todo, abraçamo-nos.
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Quando o calor interior arrefece na pele, o beijo-ponto-final. Ainda esperando saciados esperando, o beijo-reticências.
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Etecetera. Etecetera e tal.
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Pétalas-te a pétalas-te a pétalas-te e a pétalas-te. Pétalo-me a pétalo-me a pétalo-me e a pétalo-me.
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A vida vai e volta, daquele antigamente ao iremos até onde, assim também em vai-e-volta.
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Pétalar, cola de unir e consolar.

sexta-feira, outubro 05, 2018

Assim politeísta


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Adoro a Deus.
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Amo-a.
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Adoro batatas fritas.
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Tragam-me maionese e, devotamente, como-as.

Onde se deixa


Alguma vez disse que não te amava.
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Quando não se, é porque.
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O coração é, vindo e daí.
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As pessoas levam a vida demasiado.
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Quem se aborrece por pouco, estará quando for.
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Os esquecimentos do costume.
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Desleixo de leviandade.
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Leviandade do desleixo.
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Tenho não dito.
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Faltando, o é – não sei.
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Talvez no final do mês.
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Um dia para.
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Alguma vez disse que te amava.

Estações

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A árvore do Inverno acolhe-me na ramagem, para o frio ser fora e anteparando-me da água.
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A árvore da Primavera alegra-me pelas cores das flores dizendo promessas e os animais falam.
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A árvore do Verão sacia-me com seus frutos e sob si há a sombra.
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A árvore do Outono concede-me descanso e visto-me como se fosse eu alguma das suas cores.
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As quatro são uma e a sua luz é a claridade dos dias passando e eu ficando junto sem querer ir.
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Sob a sua vida, sou a parte da terra.
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Sou a Terra a que se deseja segurar.
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A árvore é uma luz que chega do céu.
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Que me leva onde.
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O amor não precisa mais.

quinta-feira, outubro 04, 2018

Angústia


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Na noite de desassossego é noite. Vezes de muitas noites. O tempo não se move e hora a hora se vêem as horas e passou uma hora. Insegurança dita perfurantemente. A noite não acaba. Pela manhã, incomodidade, porque a noite.

terça-feira, setembro 25, 2018

Assim


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Quero escrever eternamente poemas de amor, dos pirosos aos pirosos. Pretendo levar a vida teclando textos com parágrafos de amor, dos pirosos aos pirosos.
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Quero ir do amor rodando os dias. Quero o amor indiferente aos movimentos de rotação e de translação.
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Quero o amor para lá das luzes, das estrelas do longe, das chegadas depoismente da sua morte, doutras quaisquer e do Sol.
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Quero mergulhar no mar todo e lá encontrar amor, do piroso ao piroso. Quero descer ao núcleo e de lá trazer amor, do piroso ao piroso.
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Quero tudo isso. Irei entregá-lo à luz da pirosada que sinto por ti, Flor de Luz.

sexta-feira, setembro 21, 2018

A água quando nasce tem o rio para ir ao mar


fhrei
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Da plataforma número um o trem até à gare da meta.
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Entre uma e outra estação pôde descarrilar, ficando no odor sobre o aço, o óleo, a madeira e a pedra.
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William M. Vander Weyde

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Por caminho de engano.
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Noutro horário saiu da linha número dois o trem destinando-se ao cais da sina.
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Entre uma e outra estação pôde descarrilar, ficando no odor sobre o aço, o óleo, a madeira e a pedra.
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Levy & fils
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Por caminho de engano.
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Noutro horário – cada no seu lugar-nenhum – saíram dos escombros até à plataforma do desacaso.
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Imediatamente os maquinistas-passageiros reconheceram a linha de ir até.
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kerko

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Dos desastres à celebração.
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Os comboios coincidentes chegam sempre à mesma estação.
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Roman Loranc


quinta-feira, setembro 06, 2018

Objecto-corpo desistido

A depressão pode chegar até onde alguém deixa de ter ar e esperança. Peço àqueles que, por uma situação aflitiva duma vontade desesperada, sentiram, de alguma forma, o epílogo da violência desesperada numa derradeira coragem.
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Não encontro imagem-ferramenta que explique. Até será melhor. Quem sabe é quem sabe.
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Não encontro outras palavras. Não li corrigindo nada. Este texto é o que é. De quem compreende o que é.
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Hoje vi-me num corpo-objecto parado.
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Um suicídio é sempre um suicídio, tenha o objecto-corpo terminado ou salvado.
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Não faz diferença, um suicídio é um suicídio. Não é outra coisa.
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É a morte – aquela que diz a maioria.
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Um suicídio não é outra coisa do que um suicídio.
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Resgatado pelas mãos chegadas em afogo-desesperado de quem tem esperança.
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Ainda, aquele objecto-corpo era assim morto.
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Morrendo mais quando for – da morgue-terra ou da morgue-de-perdurada do sol-não-sol.
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O suicídio é do espírito deslargado do corpo-objecto porque.
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Não se sobrevive ao suicídio. Qualquer coisa-tanto-faz.
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É a dor de escolher, na coragem inestimável da solidão.
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O corpo-objecto é não-vida e matar-nos é ser não-vida.
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Seja aquilo vindo ou aquilo ido.
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Recupere o corpo-objecto, na dor inestimável da solidão.
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A dor inestimável da solidão é incompreensível àqueles que não.
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Estar diante das desrespostas não faz sentido quando as desrespostas são a resposta.
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Tanto faz como se chega ao não-lugar.  O não-lugar é único aos olhos-alma.
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Não era o meu corpo-objecto. Eu estava ali morto.
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Fui sobrevivente-morto, tantos tempos. Egocêntrico, eu era aquele corpo-objecto derrubado na solidão que.
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Na calma-quieta do suicídio, eu estava ali à porta do não-lugar, que só se.
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Pela mão da coragem de não ter coragem. Pela mão de não ter coragem de ter coragem.
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Não importa como. O suicídio é sempre instante-prolongado-agoniante. Aloja-se dentro muito tempo e quem não, não pode.
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Só quem, compreende absolutamente.
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De tanto tempo. Por tanto tempo.
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Aquele corpo era o meu – é o meu.
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Não chorei aquela vida-corpo-objecto-suicidado.
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Pensei-tentei-orar e não consegui.
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No meu egocentrismo, aquele corpo-objecto era o meu. Por isso tanto faz.
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Não chorei tal.
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Não choro almas idas ou corpos-objectos derrubados, por vontade ou por contrato.
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Não choro e não me incomodo.
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Tantas vezes me chorei demasiado prendido ao corpo-objecto.
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Contudo, ali.
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Como sempre, não choro.
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Aquele corpo-objecto era o meu e não chorei, porque não o faço por ninguém.
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Diante dos olhos contemplei o meu corpo-objecto e eu que tantas vezes me chorei não me comovi pois aquilo a que a maioria chama morte não me comove.
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Não me senti. Não me sinto. Nunca me senti.
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Apenas quem compreende o que os outros não.
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Assim olhando o corpo-objecto desprendendo-se.
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É duro. Muito duro. Não sei escrever nem.

Coisas que se dizem e podem dizer porque se podem dizer


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Disse-me:
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– Não dizes nada?
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– O que queres que te diga?
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– Não notas nada?
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– …
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– Passei horas no cabeleireiro e não dizes nada?
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– O que queres que te diga?
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– Irritaste-me!
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Que estou linda!
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Deixa estar…
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– Por que te haveria de dizer isso?
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– …
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– Estás sempre linda!
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És linda!
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– Mas arranjei-me.
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Foram horas!...
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– Amor, é impossível seres mais bonita de que sempre és!
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– Então não valeu a pena arranjar-me…
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– Claro que valeu!
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– O quê?!
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Não entendo…
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– Temos um novo motivo de conversa.
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– Parvo!

quinta-feira, agosto 16, 2018

Lábios do mesmo beijo


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Vivo o sonho de ter sonho.
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Dá-me sonho e retribuo-te.
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Adormecendo em ti, deitado em ti.
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Caídos no ardor desejado, a luz. Onde pela luz és tu – só tu toda inteira.
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És-me antes, agora e depois, de tempo sem o ser.
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És em mim como se me desflorasses – eternidade.
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Vivo como num sonho de sermos abraçados-beijados.
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Estou nesse delírio da impávida felicidade de sermos.
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Pairo no devaneio da verdade, bebendo-nos numa febre macia de ternura.
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És do encantamento de. Em nova revelação.
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Seta de Cupido vindo-nos.
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Depois, regresso e volto no país da felicidade.
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No meu sonho, sonhas comigo.
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Não há muitas verdades como esta.
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Nem ninguém como tu.

Para lá do prado


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É da luz vindo e do encadeamento da sua melodia silenciosa, sou. Sendo, sou diluído na humana-sobrenatural-beleza-corpo-mente-alma.
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A luz-conforto-amor ainda irrevelada e já era – promessa e obscura presença – benfazeja.
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Além das cores, luz de sagrada querença.
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No prado universal do amor.

segunda-feira, agosto 13, 2018

Tentaram-nos o ânimo

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Bebes-me o sangue e alimento-me de ti. Como as letras formando o livro, o temperamento fez-nos completos em permanente construção, da vertical vontade de subir a todas as montanhas donde se beija em ânimo e libertação.
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Assaltas-me na noite e fazemos amor e roubo-te as manhãs e caímos na frenética paixão. Trocamos a circunstância das horas.
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Fazemos amor amamo-nos, na cama sem amanhã nem ontem.
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Saro-te a ferida por mim cortada. Curas-me da mágoa de lamento.
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Nenhuma paisagem força o vento, antes ou depois de ido.
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Por nós em nós, vamos.
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A recordação dos males é na casa assombrada que deixámos para nem mesmo esquecer. Indizemos nomes e rostos.
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Fazemos amor, por nós em nós. O teu odor colado a mim e o meu cheiro apegado a ti.
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Sensuais como os vampiros, bebemo-nos e damo-nos em troca.
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A minha carne e o meu sangue são-te, tal a minha alma.
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A tua carne e o teu sangue são-me, tal a tua alma.
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Nenhuma ofensa nos ofende. Quem corta, desta-feita-sempre, um rumor biliático, não é faca ou quilha. É a garantia do nosso amor.
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Só na sensualidade dos lábios querendo-se em união – leveza e pedra de amantes – se pode imaginar benévolos vampiros.
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Nem claridade nem breu, vampiros de nós em nós, sensuais e felizes.

Sentei-me para


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Sentei-me para te escrever. Sinto que tudo te relatei, por isso – uma certeza é sempre falha – pus-me a pensar no indito e, numa palavra por inventar, imbeijado. Olhei, comecei indeciso. Enumerei-te virtudes para tas dizer.
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Quis despertar, construindo um país sem terra, feito da pureza da verdade, para nos amarmos esquecidos de datas. Nessa nação, isenta de carência, bem-querer eternamente. Qual o primeiro mérito assomando-se-me.
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Qual escolher primeiro? O primeiro a socorrer-me a memória ou o que mais o tenho por valor? É tão complicado assumir uma virtude. Não existe um universal, é inegável essa impossibilidade. Os seus pesos variam no dia, na hora, em qualquer instante.
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Nessa dificuldade, reconheço a fraqueza, decidi contar das mais madrugadoras neste exercício. Quando acabar a escritura, irei lembrar-me de muitas mais alegrias. O texto terá de parar para que to possa oferecer. Em mim, sei do prolongamento dos elogios.
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Ignorante em mim e tolerante por o ser, escolhi a ordem de chegada ao meu coração-cabeça-espírito. Se falhar, chamar-me-ei de fraqueza… talvez mentira, por ainda involuntária.
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Foi deste modo que aconteceu, em prosa, como texto das regras obedecido e seguindo de cima no valor até… ou como queiramos eleger.
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Cândida, bondosa, generosa, benevolente, paciente, esperançosa, amorosa, amorante, doce, tolerante, compreensiva, mansa, meiga, tépida, clara-no-dizer-amor, grata.
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Por aí ao sem-fim.
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Se deixei longe a sensualidade foi porque isso é doutra maneira noutro universo.

sábado, agosto 11, 2018

De luz-verdade


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Se disse, da tua alma, luz.
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A verdade dos sonâmbulos é de verdade.
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A boca-coração diz da alma, ainda que a cabeça não pense nem a mande calar.
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As flores não têm luz, por isso vivem as suas cores.
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A luz pode ter qualquer cor e só por sua vontade se deixa colher.
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Ser-se luz de alguém é uma promessa oferecida.
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Ser-se tido por luz é um privilégio.
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É inacreditável.
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O destino, se existisse, afirmaria esta verdade.
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Podendo mudar-se o destino, a última palavra, emocionalmente útil, são duas:
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– Amar-o-outro-e-ser-se-pelo-outro-amado.
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– A outra é segredo nosso, sem tampouco o sabermos todo.

Esperar ser seu

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Esperar ser seu, da carne à emoção, é um ardor razoável.
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Se o seu desejado quiser ser seu, será seu.
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Se o seu-desejado não cumprir tal ensejo, teimar será cobiça.
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A cobiça é inveja adulta, qualquer inveja discursa a derrota.
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O postigo não é porta nem o buraco faz de túnel.
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Parar é inteligência, insistir é arrombo.
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Enraizando-se numa birra – do melindre e do ciúme – a porta é só de saída e o orifício estreita-se do desalentar ao ferir.
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Implorando crescentemente, como nova-chegada, resta-se como súplica de soluçar.
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Escangalhado-cego-e-surdo, o amor-próprio é um nado-morto e a sua lágrima do desgosto afoga-se patética.
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Não havendo ânsia das outras alma e corpo, talqualmente tudo, quando não é, não é.
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As indevidas querenças, de eternidade e luxúria, são peçonha incessante e maníaca – uma doença crónica voluntária.
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Porque já chega, diga-se:
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Um envenena e outro empesta.
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Se existisse, que escolhesse – o Diabo.
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Por cá, escolhemos e certezantes amamo-nos.

sexta-feira, agosto 10, 2018

Dívidas

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Que dívida terei de pagar por te ter.
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Que valor terei para me teres?
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Seguraste-me na mão e deste-te. Absorvi-te como a areia salgada e o mar.
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Desapareci, numa infelicidade sem tempo de visão do seu fim.
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Fizemos amor. Sem o termos feito. Fizemo-lo no amor nunca negado e no afecto incrível.
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Sempre adiantado, atrasei-me muitos anos.
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Sempre atrasada, aguardaste-me.
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Saciaste a sede por me ter morrido.
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Esperaste-me como uma viúva do mar.
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Esperaste-me com a paciência dos anjos e a certeza dos crédulos.
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Esperaste-me com a esperança dos vencedores e a certeza dos gloriosos.
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Estiveste na chegada, que desejaste e pediste.
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Estiveste no sonho, pedindo-me.
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Estiveste no silêncio dos mudos.
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De olhos abertos, desconhecendo que lavravas a completa minha absoluta salvação.
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Livre nas vagas do sono, cativa em burburinho de tristeza, quiseste-me e pronunciaste, em bondade e fé.
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Que palavra te disse?
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Primeira, amor.
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Segunda, raiva. Por uma agonia injusta.
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Pela dor do sal, das lágrimas da distância e da aflição dos anos do longo naufrágio.
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Então cortei-te, queimando-te.
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Perdoaste-me, chorando.
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Novamente me chamaste com a esperança e a bondade de quem ama e ama de certeza.
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Não tenho muitas palavras para te beijar, chorando de alegria e arrependimento.
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Desculpa é todo e tudo, por não existir mais grande e pleno.
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Obrigado é todo e tudo, por não existir mais grande e pleno.
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Dizes-me que me amas.
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Lacrimejando ou desértico, digo que te amo.
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O que mais dizer?

sexta-feira, agosto 03, 2018

Telhado-tecto


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Sob a clarabóia, melancolia da chuva num dia silencioso.
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Imaginava-a cinzenta e intemporal ou então um refúgio de passado.
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Afinal, qualquer.
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Quando se olha, do retrato à sombra, a luz diverge por causa da clarabóia.
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Não como um manto profano. É o odor das máquinas paradas.
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No vazio de horas de movimento, termo-nos deixa-nos não-sós.
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Ser-se sob uma clarabóia é esquecimento.
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É-se o que se é, ninguém precisa de saber e sem segredo ou consentimento ou compreensão.
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Não desgosto da melancolia da chuva caindo na vidraça do telhado-tecto. Como se essa prostração precisasse do consolo da minha melancolia.
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Uma satisfação-ânimo da enfermagem e da desmemória.
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Pode pensar-se uma solidão e ser-se qualquer coisa.

Se ressuscita


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O domingo é sempre porque tem de ser.
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A Terra roda e passa sempre por domingo.
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O domingo é castanho.
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(O azul não é cor, tal o castanho).
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O domingo agarra o estômago e sufoca-o.
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O domingo diz repetidamente que é domingo.
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O domingo anuncia tudo antes do recomeçar.
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Aquela chuva triste…? Devia ser só ao domingo.
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Aquele calor de tortura…? Devia ser só ao domingo.
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As doenças e os padecimentos são domingos.
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O mal-de-amor é domingo.
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A saudade é sempre domingo.
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O domingo tem de ser domingo.
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Se ressuscita é porque morre. Felizmente, o domingo morre.

Poente a Nascente


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Estas saudades só passam se te tiver desde ontem, se pudesse ao momento em que foste.
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Os tantos dias têm sido das memórias de azul. Sorris e fazemos amor… como dizer, assim…
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Cada dia completo pela quarta-feira.
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Uma lembrança-boa-triste cada vez que, sem ti, fiz amor contigo. Todos os dias nos amámos.
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À noite falámos e diluí-me na tua voz. Depois morrendo enlevado, sonhei caindo-te-me, pelas horas nocturnas.
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Sinto uma maré: a saudade leva-te e vens mais próxima na onda da certeza-do-tempo.
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Não é necessário este Verão para nos derretermos abraçados.
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Perdi a ânsia de fulminar o espaço-tempo. Sinto-te no sítio-lugar.
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Ainda não percorrida a viagem e o tempo jaz. Não merece clemência, pela dor. Sim um festejar pela sua chegada.
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O raciocínio nega ao passado ser futuro. Por isso, a minha saudade só morrerá quando te abraçar no beijo mais azul.

quinta-feira, agosto 02, 2018

Berlindes

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Hoje, quando me lembrei de ti pela primeira vez, tive uma percepção-imagem de vigília-sonho-premonição. Tão simples quanto brincar com berlindes.
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Berlindes? Coloridos, transmitindo-me leveza-de-espírito, alívio, liberdade e amor.
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Um amor nunca tido. Inalcançável, como uma estrada para onde o olhar não chegará.
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Amor de andar de mão-dada e de riso, do abraço à cama. O caminho pela mente-espírito.
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Tal raciocínio – nem que fosse por estares nele – não me deixa fatigado. Opostamente, a visão dos berlindes aconchega-me.
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Falando-me de ti, os berlindes serão o Sol, a Terra, a Lua e todos os planetas do sistema solar? Estes astros falham em quantidade.
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Do sentir, pensar e dizer, assombradamente, aconteceu-me uma revelação.
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Cuida-me transcendência – como melodia de rumor indiscreto – oiço, no para-lá, uma estrela inédita.
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Excelente, esta estrela, só ao longe não é redonda. É a que divido contigo, meu amor.
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Se os berlindes são mais, em soma, do que uma só estela é porque.
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Comecei por escrever uma percepção-imagem de vigília-sonho-premonição.
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Meu amor não tardes e sempre és comigo.
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Conveniência de se ser feliz-livre


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Não sei se há muitas pessoas com pensamentos inúteis. Tenho muitos, todos os dias produzo-os com abundância.
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Os pensamentos inúteis dividem-se em objectos-não-funcionais e em coisas-nenhumas. Gosto mais desta segunda vertente, acho-a mais interessante, pois pode gerar mais coisas-nenhumas, servindo de incubação mental, parto, escola e ginásio, incentivando-me a inventar vazios de préstimo.
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Essas nulidades têm alternativa, pois têm. Só de pensar nelas turva-se-me o pensamento e escarafuncha-me todas as entranhas, incluindo as que não existem – obviamente um objectos-não funcionais.
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Contudo, a realidade é muito aborrecida e entedia-me. Com verdade, interessa-me pouco. Faço o que tenho de fazer, só faço o que tenho de fazer por isso mesmo, porque tenho de fazer.
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Não digo por pedanteria, sinto-me nessa infelicidade, como enfeitiçado por mau-olhado. A vida tem-me dado utilidades-sem-préstimo. Não sou bom em nada, exceptuando em objectos-não-funcionais e em coisas-nenhumas. Algumas raras aparições tornam-se coisas-vagas, de funcionalidade.
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Portanto, entre o enfado da banalidade e o desinteresse pela quase totalidade do que tenho de fazer, prefiro os meus objectos-não-funcionais e as coisas-nenhumas.
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Por aí crio e amo, multiplicando os afectos de quem gosto-gostam.
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terça-feira, julho 31, 2018

Aumentando-reduzindo

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Os dias de amparo e sensualidade são sempre atrasados.
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Hoje chorei duas vezes. Talvez ontem tenham sido mais. Daqui para trás – até nem sei quando – não houve um sem gemido meu.
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Não me arrependo. Foi água desafogando a tristeza. Deste jeito se percebe que de alegria.
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A saudade resseque-me. Chegado um novo dia, aporta-se-me a benevolência de amor.
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Cada dia que passa é menos um dia para a chegada da claridade.
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A alegria de te ver chegar.

segunda-feira, julho 30, 2018

Floresta de atrapalhação do dizer

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Por que amor é tão fácil de dizer e.
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Dito sentido.
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Não, não quero. Não quero glosas vizinhas do chão. O tédio vazio, circunstância costumada na vez da habitual maravilha. O amor alimenta-se. É faminto como o dragão e macio como uma cria.
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Não quero engravidar textos com palavras faladas como eco. Desejo as vitórias sobre os desânimos. Alcancemos os sorrisos, leve isso um instante ou até ao dia de passar. Por lá continuando esse amor como emergência.
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Ninguém diz como tu. A tua boca consegue tudo e tudo dá. Procuro ser quem. Dir-me-ás.
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Somos as liberdades das prisões consentidas e seremos as fugas do borralho do medo-grilhão.
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Sabes que vejo além e não constato – é o olho e a ferida. Contemplo só os dois.
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Só nós os dois testemunhámos em jura. A expressão da confiança e do devido. Não há privilégio no amor, nem graça. Primeiro-último: vontade-esforço e mercê-vitória.
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A querença é legítima, e as ilegítimas. Conquista sem razão é decadente, perdendo-se nos prazos da aceitação.
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Assim-lhes-seja. Dirão o mesmo, sem terem. Rabiando, bichas de próprio-equívoco-veneno.
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A tal estrela, de que te falei, está onde sempre. Épocas sem a vermos, por distracção e por rapina.
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Como roubar o que é nosso? Nunca se rapta o devido – digamos sina, pronunciemos carma, garantamos livre-arbítrio – e nada é coincidente-acaso. O nosso é nosso.
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Finalmente. Brilhou-me – por causa do castigo-remédio da vidência que carrego – para to poder dizer.
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A luz é e o seu odor é a mezinha chegada na especiaria, sacodindo esses agarrares ilegítimos.
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É a vitória.
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Mostrei-te o pontinho. Se vi antes – lá sabem – dividi, o nosso e a estrela cresceu e crescendo-cresceu. O nosso, é a glória.
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Sentiste-a viste-a e aceitaste-a, tudo o exigido sem imposição. Emancipação.
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Tantas estrelas. Uma é nossa.
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É difícil dizer do amor. Onde se está no patético e na vergonha e na timidez, do perder tempo.
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Quase fugi das glosas vizinhas do chão.
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O que disse? Mercadorias em frenético assombro de poesia. Ditos desenxabidos, cinzentos acerca do rubor do amor.
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Peço-te – porque me amas – não digas que me adoras. Afirma que me amas.
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Vejo-sinto mais luz no amor do que na admiração.