A depressão pode chegar até onde alguém deixa de ter ar e
esperança. Peço àqueles que, por uma situação aflitiva duma vontade desesperada,
sentiram, de alguma forma, o epílogo da violência desesperada numa derradeira
coragem.
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Não encontro imagem-ferramenta que explique. Até será melhor.
Quem sabe é quem sabe.
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Não encontro outras palavras. Não li corrigindo nada.
Este texto é o que é. De quem compreende o que é.
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Hoje vi-me num corpo-objecto parado.
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Um suicídio é sempre um suicídio, tenha o objecto-corpo terminado
ou salvado.
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Não faz diferença, um suicídio é um suicídio. Não é outra
coisa.
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É a morte – aquela que diz a maioria.
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Um suicídio não é outra coisa do que um suicídio.
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Resgatado pelas mãos chegadas em afogo-desesperado de quem
tem esperança.
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Ainda, aquele objecto-corpo era assim morto.
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Morrendo mais quando for – da morgue-terra ou da morgue-de-perdurada
do sol-não-sol.
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O suicídio é do espírito deslargado do corpo-objecto porque.
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Não se sobrevive ao suicídio. Qualquer coisa-tanto-faz.
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É a dor de escolher, na coragem inestimável da solidão.
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O corpo-objecto é não-vida e matar-nos é ser não-vida.
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Seja aquilo vindo ou aquilo ido.
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Recupere o corpo-objecto, na dor inestimável da solidão.
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A dor inestimável da solidão é incompreensível àqueles que
não.
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Estar diante das desrespostas não faz sentido quando as
desrespostas são a resposta.
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Tanto faz como se chega ao não-lugar. O não-lugar é único aos olhos-alma.
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Não era o meu corpo-objecto. Eu estava ali morto.
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Fui sobrevivente-morto, tantos tempos. Egocêntrico, eu era
aquele corpo-objecto derrubado na solidão que.
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Na calma-quieta do suicídio, eu estava ali à porta do
não-lugar, que só se.
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Pela mão da coragem de não ter coragem. Pela mão de não ter
coragem de ter coragem.
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Não importa como. O suicídio é sempre instante-prolongado-agoniante.
Aloja-se dentro muito tempo e quem não, não pode.
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Só quem, compreende absolutamente.
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De tanto tempo. Por tanto tempo.
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Aquele corpo era o meu – é o meu.
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Não chorei aquela vida-corpo-objecto-suicidado.
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Pensei-tentei-orar e não consegui.
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No meu egocentrismo, aquele corpo-objecto era o meu. Por
isso tanto faz.
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Não chorei tal.
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Não choro almas idas ou corpos-objectos derrubados, por
vontade ou por contrato.
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Não choro e não me incomodo.
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Tantas vezes me chorei demasiado prendido ao corpo-objecto.
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Contudo, ali.
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Como sempre, não choro.
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Aquele corpo-objecto era o meu e não chorei, porque não o
faço por ninguém.
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Diante dos olhos contemplei o meu corpo-objecto e eu que
tantas vezes me chorei não me comovi pois aquilo a que a maioria chama morte
não me comove.
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Não me senti. Não me sinto. Nunca me senti.
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Apenas quem compreende o que os outros não.
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Assim olhando o corpo-objecto desprendendo-se.
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É duro. Muito duro. Não sei escrever nem.
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É duro. Muito duro. Não sei escrever nem.
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