digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.
segunda-feira, agosto 31, 2009
domingo, agosto 30, 2009
A luz nova
Sou um ser emocional, não racional. Tenho certezas e não dúvidas. A minha certeza está na crença e não tenho um resultado verdadeiro até ao dia em que se prove o seu erro. A minha vida não se rege pelo raciocínio lógico, antes a cabeça obedece aos ditames de boca e estômago. Prefiro amar a fazer equações e viver a ter de cumprir as regras que a sociedade implicitamente determina. Não sei se a Terra é redonda, porque nunca a vi redonda, e se querem ser racionais e exigir provas, então que me provem e mostrem, diante destes meus olhos, que a Terra é mesmo redonda. Não quero saber das fotografias, porque nunca fui tão longe para a ver inteira e desconfio que alguém tenha ido. Se me disserem que o céu não é redondo, não acredito, porque é redondo que o vejo, mas não sei se o espaço é finito ou infinito. Aliás, nem sei se o infinito pode existir. Ninguém pode saber, só desconfiar. Desconfiar é não saber e eu só sei o que sei, e só no que sei posso acreditar. Se sei de Deus? Sinto-o, e se o sinto é porque é verdade. E se existe ciência é porque Deus assim o quer, por isso existe.
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Nota: Por isto, ainda vou penar pela Inquisição da ciência.
sábado, agosto 29, 2009
Uma tarde inteira
É uma tarde inteira de tempo todo, de tempo vago, de tempo suspenso. É uma tarde de inteira de solidão anestesiada pela luz franca do Verão. Luz curva, que se curva nas horas do dia, de batimento nas janelas e orifícios de claridade nas paredes. Luz que se curva nas horas do dia, que nasce, cresce e envelhece no ano, que renasce a cada ano, todos os anos, como em todas as vidas.
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É um dia inteiro, esta tarde vaga e de silêncios. Um dia inteiro de solidão para que se possa levitar, ter esperança de voar. Ninguém vê. Ninguém se lembra. Ninguém sente. Só. Solidão no silêncio e deserto da casa.
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Lembro disso. Era miúdo e o casarão estava quase vazio de gente, só a minha prima velhota. Nos corredores entrava a luz possível, filtrada pelos vidros martelados e esgueirada pelo espaço deixado pelas portadas dos postigos. Brincava a uma espécie de macaca, uma espécie de pé-coxinho, sozinho, já se vê, sobre os ladrilhos com padrões do chão.
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Era o ar das manhãs prometedoras. Das tardes quentes. Das noites escuras. Era aquele tempo todo, entre a infância e a maioridade imaginada. Tinha tantos sonhos, que sonhava um dia não ter sonho nenhum. E realizou-se o sonho.
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Restam as tardes como esta. Todos os dias, meses a fio. Nem amores nem desamores. Só na vida, como no sono, como no sonambulismo. Um fantasma com corpo, com pouco para dizer e nada para ouvir. As tardes são longas e a vida curta. Uma tarde inteira de meia vida, de pouca vida. Um dia haverá. Um dia. Um dia.
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É um dia inteiro, esta tarde vaga e de silêncios. Um dia inteiro de solidão para que se possa levitar, ter esperança de voar. Ninguém vê. Ninguém se lembra. Ninguém sente. Só. Solidão no silêncio e deserto da casa.
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Lembro disso. Era miúdo e o casarão estava quase vazio de gente, só a minha prima velhota. Nos corredores entrava a luz possível, filtrada pelos vidros martelados e esgueirada pelo espaço deixado pelas portadas dos postigos. Brincava a uma espécie de macaca, uma espécie de pé-coxinho, sozinho, já se vê, sobre os ladrilhos com padrões do chão.
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Era o ar das manhãs prometedoras. Das tardes quentes. Das noites escuras. Era aquele tempo todo, entre a infância e a maioridade imaginada. Tinha tantos sonhos, que sonhava um dia não ter sonho nenhum. E realizou-se o sonho.
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Restam as tardes como esta. Todos os dias, meses a fio. Nem amores nem desamores. Só na vida, como no sono, como no sonambulismo. Um fantasma com corpo, com pouco para dizer e nada para ouvir. As tardes são longas e a vida curta. Uma tarde inteira de meia vida, de pouca vida. Um dia haverá. Um dia. Um dia.
sexta-feira, agosto 28, 2009
quinta-feira, agosto 27, 2009
terça-feira, agosto 25, 2009
segunda-feira, agosto 24, 2009
sábado, agosto 22, 2009
O que apostamos?
- Deixa-me! Não gosto de ti!
- Porquê?
- Porque és um molengão.
- Não sou nada!
- És pois!
- Faço muito exercício!
- Deves fazer!...
- Se não acreditas, vamos fazer uma aposta.
- Está bem. O que apostamos?
- Vamos até Cascais a pé. O primeiro que desistir, perde.
- Combinado!
- Combinado!
- O que apostamos?
- Uma queca.
- Uma queca?
- Sim! Se eu ganhar, dás-me uma queca. Se eu perder, dou-te uma queca. Vale?
sexta-feira, agosto 21, 2009
quinta-feira, agosto 20, 2009
quarta-feira, agosto 19, 2009
terça-feira, agosto 18, 2009
segunda-feira, agosto 17, 2009
domingo, agosto 16, 2009
En franciu, oh monsiu
Por que é que a língua francesa, que é galante, esclarecida e poética, parece uma avalancha de cascalho nas bocas matarruanas dos nossos emigrantes?
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Nota: Jantava eu num simpático restaurante de bairro, pacato e feliz, quando uma rodada larga de emigrantes portugueses «na» França chegou com seu linguajar característico. Falavam alto como os espanhóis, como quase muitos, quase todos, os emigrantes que vêm à terra exibir não sei o quê para provar aos que os que cá ficaram que são campónios, nada como eles, que ficaram gente fina por trabalharem a servir e nas obras lá na estranja. Falavam em francês entre si, intercalavam com vocábulos em português sempre que subia a mostarda ou o domínio da outra língua fraquejava. Confesso que não tenho paciência. Que fiquem por lá e não voltem. Estou-me nas tintas para a vida que aqui deixaram e para o que por lá passaram. Safa!
sábado, agosto 15, 2009
Um dia na praia
Encadeado pelo horizonte, pela lanterna de vida agora vermelha, finjo deixar de viver e pressinto a leveza da existência sem o corpo.
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É certo que há vento a contrariar os banhistas, mas esta tarde é um prenúncio do Paraíso. Tudo é como um sonho.
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Posso estar aqui com mais gente e, contudo, só. Sem ninguém é um tão completo abandono, que sou um elemento natural como qualquer rocha ou alga náufraga.
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Estar só num grupo é estar entre os mortos e os vivos. Assim, sei como será presenciar o meu próprio velório. Ainda por me passar e já sem conseguir voltar.
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Ser aqui é tão irrelevante! É pueril. É inconsequente. A qualquer momento me poderei levantar sem que ninguém dê conta, que se importe, que tenha implicações.
Posso estar aqui com mais gente e, contudo, só. Sem ninguém é um tão completo abandono, que sou um elemento natural como qualquer rocha ou alga náufraga.
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Estar só num grupo é estar entre os mortos e os vivos. Assim, sei como será presenciar o meu próprio velório. Ainda por me passar e já sem conseguir voltar.
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Ser aqui é tão irrelevante! É pueril. É inconsequente. A qualquer momento me poderei levantar sem que ninguém dê conta, que se importe, que tenha implicações.
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Estar aqui é como não estar em lado nenhum. É parecido com um estado de invisibilidade. É sábado, mas poderia ser segunda ou terça-feira ou o dia que quiserem. Não seria diferente do Natal ou da Páscoa.
Estar aqui é como não estar em lado nenhum. É parecido com um estado de invisibilidade. É sábado, mas poderia ser segunda ou terça-feira ou o dia que quiserem. Não seria diferente do Natal ou da Páscoa.
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Que devo fazer, então, agora? Ignorar tudo isto que penso para desfrutar a inutilidade dum dia na praia. Mergulhar na imensa profundidade do vazio. Experimentar sonhar consciente.
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Há-de haver um momento em que alguém acordará do seu egocentrismo e quererá conviver. Dirá: Vamo-nos embora? Interrogada a frase ou afirmativa, tanto faz. Será sempre um acto de egoísmo, diferente.
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Aí, se acordar e concordar com o fim desse mergulho para dentro de mim, serei um paciente canídeo. Ou não… afinal é tão fútil estar na praia, que qualquer mente laboriosa fica impaciente pouco tempo depois de chegar. Ou paciente canídeo ou feliz marchante para as coisas comuns e úteis da vida.
Que devo fazer, então, agora? Ignorar tudo isto que penso para desfrutar a inutilidade dum dia na praia. Mergulhar na imensa profundidade do vazio. Experimentar sonhar consciente.
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Há-de haver um momento em que alguém acordará do seu egocentrismo e quererá conviver. Dirá: Vamo-nos embora? Interrogada a frase ou afirmativa, tanto faz. Será sempre um acto de egoísmo, diferente.
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Aí, se acordar e concordar com o fim desse mergulho para dentro de mim, serei um paciente canídeo. Ou não… afinal é tão fútil estar na praia, que qualquer mente laboriosa fica impaciente pouco tempo depois de chegar. Ou paciente canídeo ou feliz marchante para as coisas comuns e úteis da vida.
sexta-feira, agosto 14, 2009
quinta-feira, agosto 13, 2009
quarta-feira, agosto 12, 2009
terça-feira, agosto 11, 2009
Arte
Devia haver uma lei, mecanismo natural automático e censura pública global a quem compra ou tem arte fechada num cofre. Os investidores não gostam de arte, mas do valor associado a uma assinatura e, na melhor das hipóteses, ao estatuto social que a arte proporciona. Não importa nem a qualidade nem o gosto pessoal, mas o valor que a sociedade atribui a uma obra e um autor. O investidor não está preocupado em gostar ou compreender a arte, pois sabe que o que gosta e compreende é o dinheiro e o mercado. A sociedade que fixa os preços é composta, na maioria, por financeiros, investidores e uns poucos apreciadores. Basicamente, o mercado alimenta-se. Os investidores especulam para si próprios. Nem para decoração devem querer a arte, pois o seu prazer (clítoris e pénis) está no bolso.
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Por mim, tanto me dá. Gosto do que gosto e fico feliz com o que compreendo ou julgo compreender. Não tenho dinheiro para comprar arte, mas talvez tenha mais objectos de arte em casa do que muitos investidores de arte. Não sei, não conheço nem quero conhecer essa gente.
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Nota: Instalação de autor não identificado.
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Por mim, tanto me dá. Gosto do que gosto e fico feliz com o que compreendo ou julgo compreender. Não tenho dinheiro para comprar arte, mas talvez tenha mais objectos de arte em casa do que muitos investidores de arte. Não sei, não conheço nem quero conhecer essa gente.
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Nota: Instalação de autor não identificado.
sexta-feira, agosto 07, 2009
quinta-feira, agosto 06, 2009
Água
Toda a água tem essência de onda. Não é como o ar, que nem sempre aspira a vento ou tem força para o ser. Toda a água é como a alma, quando quieta guarda-se e se agitada sai do corpo que a encerra. Como posso eu ter outro elemento que não água se a única parte de mim que sinto é a alma? Nasci terra e o nascimento guarda-me contrafeito. Um dia terei o fogo suficiente para uma erupção que me devolva à verdadeira essência.
Croconilo
quarta-feira, agosto 05, 2009
O ódio a matemática
Quando era miúdo gostava de arte abstracta, fazia arte abstracta. Desde muito cedo que abomino ciências abstractas, asneio em concreto a matemática. Em abstracto, sempre gostei de mulheres escléticas e desprezei os dias atléticos. Desde miúdo que gosto de palavras esdrúxulas, mas se me abstrair também gosto delas agudas e graves, como de mulheres apenas magras, quase gordas e gordas. Em concreto, não gosto delas doentiamente gordas. O que nunca fui capaz de gostar foi de ciências abstractas, de matemática em concreto.
terça-feira, agosto 04, 2009
Sou de antónimos
Sou uma pessoa de extremos, de excessos e de antónimos. Quero tudo, não quero nada. Quero estar onde estou e onde não estou. Se estou infeliz penso no fim. se estou feliz penso no fim. No fim de tudo, no fim da felicidade, no fim da vida. Quendera que fosse o fim da vida, para ser o fim da infelicidade. Sou uma pessoa de antónimos. Sou uma recta, percorro a vida, do antes ao depois da vida. Quero estar e estar ausente. Prolongo-me e interrompo-me. Preciso de férias e de começar a trabalhar. O que hei-de fazer comigo?
segunda-feira, agosto 03, 2009
domingo, agosto 02, 2009
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