digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, agosto 15, 2009

Um dia na praia





















Encadeado pelo horizonte, pela lanterna de vida agora vermelha, finjo deixar de viver e pressinto a leveza da existência sem o corpo.
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É certo que há vento a contrariar os banhistas, mas esta tarde é um prenúncio do Paraíso. Tudo é como um sonho.
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Posso estar aqui com mais gente e, contudo, só. Sem ninguém é um tão completo abandono, que sou um elemento natural como qualquer rocha ou alga náufraga.
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Estar só num grupo é estar entre os mortos e os vivos. Assim, sei como será presenciar o meu próprio velório. Ainda por me passar e já sem conseguir voltar.
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Ser aqui é tão irrelevante! É pueril. É inconsequente. A qualquer momento me poderei levantar sem que ninguém dê conta, que se importe, que tenha implicações.
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Estar aqui é como não estar em lado nenhum. É parecido com um estado de invisibilidade. É sábado, mas poderia ser segunda ou terça-feira ou o dia que quiserem. Não seria diferente do Natal ou da Páscoa.
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Que devo fazer, então, agora? Ignorar tudo isto que penso para desfrutar a inutilidade dum dia na praia. Mergulhar na imensa profundidade do vazio. Experimentar sonhar consciente.
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Há-de haver um momento em que alguém acordará do seu egocentrismo e quererá conviver. Dirá: Vamo-nos embora? Interrogada a frase ou afirmativa, tanto faz. Será sempre um acto de egoísmo, diferente.
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Aí, se acordar e concordar com o fim desse mergulho para dentro de mim, serei um paciente canídeo. Ou não… afinal é tão fútil estar na praia, que qualquer mente laboriosa fica impaciente pouco tempo depois de chegar. Ou paciente canídeo ou feliz marchante para as coisas comuns e úteis da vida.

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