digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, agosto 16, 2018

Lábios do mesmo beijo


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Vivo o sonho de ter sonho.
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Dá-me sonho e retribuo-te.
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Adormecendo em ti, deitado em ti.
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Caídos no ardor desejado, a luz. Onde pela luz és tu – só tu toda inteira.
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És-me antes, agora e depois, de tempo sem o ser.
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És em mim como se me desflorasses – eternidade.
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Vivo como num sonho de sermos abraçados-beijados.
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Estou nesse delírio da impávida felicidade de sermos.
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Pairo no devaneio da verdade, bebendo-nos numa febre macia de ternura.
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És do encantamento de. Em nova revelação.
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Seta de Cupido vindo-nos.
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Depois, regresso e volto no país da felicidade.
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No meu sonho, sonhas comigo.
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Não há muitas verdades como esta.
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Nem ninguém como tu.

Para lá do prado


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É da luz vindo e do encadeamento da sua melodia silenciosa, sou. Sendo, sou diluído na humana-sobrenatural-beleza-corpo-mente-alma.
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A luz-conforto-amor ainda irrevelada e já era – promessa e obscura presença – benfazeja.
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Além das cores, luz de sagrada querença.
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No prado universal do amor.

segunda-feira, agosto 13, 2018

Tentaram-nos o ânimo

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Bebes-me o sangue e alimento-me de ti. Como as letras formando o livro, o temperamento fez-nos completos em permanente construção, da vertical vontade de subir a todas as montanhas donde se beija em ânimo e libertação.
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Assaltas-me na noite e fazemos amor e roubo-te as manhãs e caímos na frenética paixão. Trocamos a circunstância das horas.
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Fazemos amor amamo-nos, na cama sem amanhã nem ontem.
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Saro-te a ferida por mim cortada. Curas-me da mágoa de lamento.
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Nenhuma paisagem força o vento, antes ou depois de ido.
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Por nós em nós, vamos.
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A recordação dos males é na casa assombrada que deixámos para nem mesmo esquecer. Indizemos nomes e rostos.
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Fazemos amor, por nós em nós. O teu odor colado a mim e o meu cheiro apegado a ti.
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Sensuais como os vampiros, bebemo-nos e damo-nos em troca.
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A minha carne e o meu sangue são-te, tal a minha alma.
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A tua carne e o teu sangue são-me, tal a tua alma.
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Nenhuma ofensa nos ofende. Quem corta, desta-feita-sempre, um rumor biliático, não é faca ou quilha. É a garantia do nosso amor.
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Só na sensualidade dos lábios querendo-se em união – leveza e pedra de amantes – se pode imaginar benévolos vampiros.
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Nem claridade nem breu, vampiros de nós em nós, sensuais e felizes.

Sentei-me para


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Sentei-me para te escrever. Sinto que tudo te relatei, por isso – uma certeza é sempre falha – pus-me a pensar no indito e, numa palavra por inventar, imbeijado. Olhei, comecei indeciso. Enumerei-te virtudes para tas dizer.
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Quis despertar, construindo um país sem terra, feito da pureza da verdade, para nos amarmos esquecidos de datas. Nessa nação, isenta de carência, bem-querer eternamente. Qual o primeiro mérito assomando-se-me.
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Qual escolher primeiro? O primeiro a socorrer-me a memória ou o que mais o tenho por valor? É tão complicado assumir uma virtude. Não existe um universal, é inegável essa impossibilidade. Os seus pesos variam no dia, na hora, em qualquer instante.
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Nessa dificuldade, reconheço a fraqueza, decidi contar das mais madrugadoras neste exercício. Quando acabar a escritura, irei lembrar-me de muitas mais alegrias. O texto terá de parar para que to possa oferecer. Em mim, sei do prolongamento dos elogios.
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Ignorante em mim e tolerante por o ser, escolhi a ordem de chegada ao meu coração-cabeça-espírito. Se falhar, chamar-me-ei de fraqueza… talvez mentira, por ainda involuntária.
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Foi deste modo que aconteceu, em prosa, como texto das regras obedecido e seguindo de cima no valor até… ou como queiramos eleger.
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Cândida, bondosa, generosa, benevolente, paciente, esperançosa, amorosa, amorante, doce, tolerante, compreensiva, mansa, meiga, tépida, clara-no-dizer-amor, grata.
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Por aí ao sem-fim.
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Se deixei longe a sensualidade foi porque isso é doutra maneira noutro universo.

sábado, agosto 11, 2018

De luz-verdade


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Se disse, da tua alma, luz.
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A verdade dos sonâmbulos é de verdade.
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A boca-coração diz da alma, ainda que a cabeça não pense nem a mande calar.
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As flores não têm luz, por isso vivem as suas cores.
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A luz pode ter qualquer cor e só por sua vontade se deixa colher.
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Ser-se luz de alguém é uma promessa oferecida.
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Ser-se tido por luz é um privilégio.
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É inacreditável.
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O destino, se existisse, afirmaria esta verdade.
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Podendo mudar-se o destino, a última palavra, emocionalmente útil, são duas:
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– Amar-o-outro-e-ser-se-pelo-outro-amado.
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– A outra é segredo nosso, sem tampouco o sabermos todo.

Esperar ser seu

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Esperar ser seu, da carne à emoção, é um ardor razoável.
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Se o seu desejado quiser ser seu, será seu.
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Se o seu-desejado não cumprir tal ensejo, teimar será cobiça.
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A cobiça é inveja adulta, qualquer inveja discursa a derrota.
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O postigo não é porta nem o buraco faz de túnel.
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Parar é inteligência, insistir é arrombo.
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Enraizando-se numa birra – do melindre e do ciúme – a porta é só de saída e o orifício estreita-se do desalentar ao ferir.
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Implorando crescentemente, como nova-chegada, resta-se como súplica de soluçar.
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Escangalhado-cego-e-surdo, o amor-próprio é um nado-morto e a sua lágrima do desgosto afoga-se patética.
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Não havendo ânsia das outras alma e corpo, talqualmente tudo, quando não é, não é.
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As indevidas querenças, de eternidade e luxúria, são peçonha incessante e maníaca – uma doença crónica voluntária.
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Porque já chega, diga-se:
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Um envenena e outro empesta.
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Se existisse, que escolhesse – o Diabo.
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Por cá, escolhemos e certezantes amamo-nos.

sexta-feira, agosto 10, 2018

Dívidas

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Que dívida terei de pagar por te ter.
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Que valor terei para me teres?
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Seguraste-me na mão e deste-te. Absorvi-te como a areia salgada e o mar.
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Desapareci, numa infelicidade sem tempo de visão do seu fim.
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Fizemos amor. Sem o termos feito. Fizemo-lo no amor nunca negado e no afecto incrível.
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Sempre adiantado, atrasei-me muitos anos.
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Sempre atrasada, aguardaste-me.
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Saciaste a sede por me ter morrido.
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Esperaste-me como uma viúva do mar.
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Esperaste-me com a paciência dos anjos e a certeza dos crédulos.
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Esperaste-me com a esperança dos vencedores e a certeza dos gloriosos.
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Estiveste na chegada, que desejaste e pediste.
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Estiveste no sonho, pedindo-me.
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Estiveste no silêncio dos mudos.
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De olhos abertos, desconhecendo que lavravas a completa minha absoluta salvação.
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Livre nas vagas do sono, cativa em burburinho de tristeza, quiseste-me e pronunciaste, em bondade e fé.
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Que palavra te disse?
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Primeira, amor.
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Segunda, raiva. Por uma agonia injusta.
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Pela dor do sal, das lágrimas da distância e da aflição dos anos do longo naufrágio.
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Então cortei-te, queimando-te.
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Perdoaste-me, chorando.
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Novamente me chamaste com a esperança e a bondade de quem ama e ama de certeza.
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Não tenho muitas palavras para te beijar, chorando de alegria e arrependimento.
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Desculpa é todo e tudo, por não existir mais grande e pleno.
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Obrigado é todo e tudo, por não existir mais grande e pleno.
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Dizes-me que me amas.
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Lacrimejando ou desértico, digo que te amo.
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O que mais dizer?

sexta-feira, agosto 03, 2018

Telhado-tecto


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Sob a clarabóia, melancolia da chuva num dia silencioso.
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Imaginava-a cinzenta e intemporal ou então um refúgio de passado.
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Afinal, qualquer.
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Quando se olha, do retrato à sombra, a luz diverge por causa da clarabóia.
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Não como um manto profano. É o odor das máquinas paradas.
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No vazio de horas de movimento, termo-nos deixa-nos não-sós.
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Ser-se sob uma clarabóia é esquecimento.
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É-se o que se é, ninguém precisa de saber e sem segredo ou consentimento ou compreensão.
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Não desgosto da melancolia da chuva caindo na vidraça do telhado-tecto. Como se essa prostração precisasse do consolo da minha melancolia.
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Uma satisfação-ânimo da enfermagem e da desmemória.
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Pode pensar-se uma solidão e ser-se qualquer coisa.

Se ressuscita


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O domingo é sempre porque tem de ser.
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A Terra roda e passa sempre por domingo.
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O domingo é castanho.
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(O azul não é cor, tal o castanho).
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O domingo agarra o estômago e sufoca-o.
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O domingo diz repetidamente que é domingo.
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O domingo anuncia tudo antes do recomeçar.
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Aquela chuva triste…? Devia ser só ao domingo.
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Aquele calor de tortura…? Devia ser só ao domingo.
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As doenças e os padecimentos são domingos.
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O mal-de-amor é domingo.
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A saudade é sempre domingo.
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O domingo tem de ser domingo.
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Se ressuscita é porque morre. Felizmente, o domingo morre.

Poente a Nascente


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Estas saudades só passam se te tiver desde ontem, se pudesse ao momento em que foste.
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Os tantos dias têm sido das memórias de azul. Sorris e fazemos amor… como dizer, assim…
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Cada dia completo pela quarta-feira.
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Uma lembrança-boa-triste cada vez que, sem ti, fiz amor contigo. Todos os dias nos amámos.
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À noite falámos e diluí-me na tua voz. Depois morrendo enlevado, sonhei caindo-te-me, pelas horas nocturnas.
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Sinto uma maré: a saudade leva-te e vens mais próxima na onda da certeza-do-tempo.
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Não é necessário este Verão para nos derretermos abraçados.
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Perdi a ânsia de fulminar o espaço-tempo. Sinto-te no sítio-lugar.
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Ainda não percorrida a viagem e o tempo jaz. Não merece clemência, pela dor. Sim um festejar pela sua chegada.
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O raciocínio nega ao passado ser futuro. Por isso, a minha saudade só morrerá quando te abraçar no beijo mais azul.

quinta-feira, agosto 02, 2018

Berlindes

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Hoje, quando me lembrei de ti pela primeira vez, tive uma percepção-imagem de vigília-sonho-premonição. Tão simples quanto brincar com berlindes.
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Berlindes? Coloridos, transmitindo-me leveza-de-espírito, alívio, liberdade e amor.
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Um amor nunca tido. Inalcançável, como uma estrada para onde o olhar não chegará.
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Amor de andar de mão-dada e de riso, do abraço à cama. O caminho pela mente-espírito.
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Tal raciocínio – nem que fosse por estares nele – não me deixa fatigado. Opostamente, a visão dos berlindes aconchega-me.
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Falando-me de ti, os berlindes serão o Sol, a Terra, a Lua e todos os planetas do sistema solar? Estes astros falham em quantidade.
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Do sentir, pensar e dizer, assombradamente, aconteceu-me uma revelação.
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Cuida-me transcendência – como melodia de rumor indiscreto – oiço, no para-lá, uma estrela inédita.
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Excelente, esta estrela, só ao longe não é redonda. É a que divido contigo, meu amor.
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Se os berlindes são mais, em soma, do que uma só estela é porque.
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Comecei por escrever uma percepção-imagem de vigília-sonho-premonição.
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Meu amor não tardes e sempre és comigo.
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Conveniência de se ser feliz-livre


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Não sei se há muitas pessoas com pensamentos inúteis. Tenho muitos, todos os dias produzo-os com abundância.
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Os pensamentos inúteis dividem-se em objectos-não-funcionais e em coisas-nenhumas. Gosto mais desta segunda vertente, acho-a mais interessante, pois pode gerar mais coisas-nenhumas, servindo de incubação mental, parto, escola e ginásio, incentivando-me a inventar vazios de préstimo.
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Essas nulidades têm alternativa, pois têm. Só de pensar nelas turva-se-me o pensamento e escarafuncha-me todas as entranhas, incluindo as que não existem – obviamente um objectos-não funcionais.
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Contudo, a realidade é muito aborrecida e entedia-me. Com verdade, interessa-me pouco. Faço o que tenho de fazer, só faço o que tenho de fazer por isso mesmo, porque tenho de fazer.
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Não digo por pedanteria, sinto-me nessa infelicidade, como enfeitiçado por mau-olhado. A vida tem-me dado utilidades-sem-préstimo. Não sou bom em nada, exceptuando em objectos-não-funcionais e em coisas-nenhumas. Algumas raras aparições tornam-se coisas-vagas, de funcionalidade.
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Portanto, entre o enfado da banalidade e o desinteresse pela quase totalidade do que tenho de fazer, prefiro os meus objectos-não-funcionais e as coisas-nenhumas.
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Por aí crio e amo, multiplicando os afectos de quem gosto-gostam.
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