A eternidade pode ser uma palavra perdida. Uma frase grafitada num muro esquecido. Quase silêncio do vento a bater nas folhas e galhos. Quase quente. Quase ébrio. Quase deserto.
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A solidão é uma sombra esbatida, uma vida abandonada, um encolher de ombros, um não querer saber, um não esperar nada, um não desejar nada, uma vontade de coisa nenhuma.
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E o que é o tempo? O mancar dum relógio de sala? Nas casas vazias, nas almas tristes, nas vidas esquecidas, nas horas de tédio.
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A eternidade dos infelizes escreve-se à mão. Palavra escrita com tinta de sombra. Palavra grafitada numa parede onde não bate o Sol e onde ninguém passa.
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O tempo é um buraco negro, que suga a vida. Viver é esperança? Quantos não andam mortos e apenas esperam?
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A tristeza escreve-se com letras queimadas. A eternidade dos tristes tem trezentos e sessenta e cinco dias por ano e de quatro em quatro tem mais um. Cada dia tem muitas mais horas do que as vinte e quatro das jornadas dos felizes. A dor do tédio. A espertina em desatino. As horas vazias.
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A vida suga a vida de quem vive triste. De quem teve a tristeza de nascer triste e viver triste. A vida é uma voragem. Não vale a pena pedir socorro, porque o triste será sempre triste e quanto mais triste viver, mais triste será.
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Não há socorro. Ainda que peça, ninguém ouve. Os alegres, na sua bondosa ignorância, desviam-se. É mentira. Dizem. Só faz porque isto e aquilo e se quisesse já tinha feito, é mimo, é isto e é aquilo.
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O tédio mata e mata-se o tédio matando a vida que mata.
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A verdade escreve-se a fogo e a tristeza com letras de sombra.