Cadáver de carcaça viva, esperando que o peso da alma dê sinal para perda do corpo. Os anos dum dia sucedem a anos. As horas suspensas, e sem o mancar monótono e previsível dum pêndulo numa casa vazia e esquecida. Já experimentei ficar deitado, atravessado na cama, com a cabeça pendurada… ou mergulhado em água quente, numa casa de banho sobreaquecida… Chorei, amaldiçoei Deus e critiquei-me. Será que o corpo é parte sobejante da vida?
digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.
quarta-feira, junho 29, 2011
domingo, junho 26, 2011
Valsa de Verão
Sopra-me e atiro-te gotas. Esta noite está de dançar, frente ao rio ou ao mar. Velas de vento ali e de fogo aqui. E se for preciso, não importa que olhem. Nariz com nariz e bocas… Não se diz nada, para que nenhuma vaga promessa possa… dançar até depois de a música parar, nós os dois, um só, a vontade de unir num os dois sós. Dançar até depois de a música parar, nós os dois, um só… depois acordamos, um ao lado do outro. A pensar um no outro. Dançar até depois de a música parar, nós os dois, um só… acordamos e não percebemos por que estamos sós.
(A)mar Eterno
A paixão é um caleidoscópio, mas não tenho a certeza se a memória dos amores defuntos não é parda. Já me apaixonei por motivos diferentes, até por atrevimento. Em todas as vezes a vida foi imponderável, um descontrolo. Não sei se gosto. Devo gostar, ou não repetiria.
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Talvez a vertigem seja o meu maior vício. O desejo do prazer e de pisar o limite. A fome de corpo e de afectos. Não gosto de regras. Nunca gostei. Se me desenhares uma fronteira, eu atravesso-a com a coragem da minha ternura e poder de sedução. Olha-me nos olhos. Que dizes?
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Vertigem sinto eu… por mais palavras que digas e juras que faças. A qualquer ternura, temo cair sem rede. Tudo vale um beijo... Queres uma fronteira? É aquela linha no mar, onde começa a onda e termina o vento… entre o verde e o cinzento. Ultrapassa-a se fores capaz e traz-me o beijo mais salgado que consigas.
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E se a queda for maior do que a onda que se avizinha, vais lá estar para salvar a alma? Já não me restam lágrimas. E a minha voz secou de tanto gritar pelo teu nome ao vento, que assobiava com a fúria da tempestade. Imaginei-me com asas para te procurar entre as gaivotas. Desejei ser mulher sereia para descer às profundezas do oceano. Não tenho medo do mundo, apenas de ti.
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Se fores sereia e eu gaivota estaremos sempre perto, mas nunca juntos. Deixa-te ir, que resgatar-te-ei à espuma salgada. Em sonhos venço Neptuno… assim, frente a frente ao mar… Se fores nas ondas… em sonhos venço Neptuno! E porque amar é sonhar, vou ao fundo do mar resgatar-te… oiço-te, não por gritares, mas por te ouvir o coração chamar-me…
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Sigo a corrente, na esperança de encontrar-te. Um dia, quem sabe. O nosso amor é como a onda que rebenta, porque reconhece que a sua força chegou ao limite. Como a espuma que abraça a areia e as rochas para depois as devolver à solidão. Mas desistir não é o meu verbo de acção. O equilíbrio está na imperfeição e nas contradições do amor. Quem disse que o céu não sopra ao mar juras de amor eterno, de amantes e marinheiros?
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Que o amor rebente na praia e os corpos se limpem de areias... Que nos amemos indiferentes ao mundo, nas rochas, entre limos, e marés. Seja o que for, até nada… Se desapareceres entre vagas, gritarei ao mar e ao céu, para que quem te levou saiba que há quem te sinta a falta e saiba que amor não rebenta nem se afoga.
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O amor é um trapezista destemido, que desafia o perigo e arrisca o coração sempre que se expõe. Não tem medo do ridículo. De mostrar o seu lado mais frágil, de fraquezas, dúvidas e incertezas. De partilhar.
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Ama-me. Ama-me muito. Para que um dia eu possa dizer que provei o amor.
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Nota: Texto escrito a quatro mãos, duas minhas e duas (mais bonitas) de Rita Carvalho.
sexta-feira, junho 24, 2011
A árvore
Árvore de quase toda a beleza e da sombra em que me deito. Casa, o berço do mundo. Só não a abraço por pudor. Guardiã do jardim, confidente e vigilante, a alegria e a amizade.
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No Verão, a sombra. No Outono, a poesia. No Inverno, a nostalgia. Na Primavera, a esperança. Casa de tanto e tanta coisa. Generosidade silenciosa. Grandiosidade sem arrogância.
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Fico horas à sua sombra a imaginar a casa onde viver, o jardim para a pôr... a árvore para me dar sombra.
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A minha árvore existe algures. Um dia farei amor no seu colo. Reconfortar-me-ei com um fruto. E com o caroço, abandonado no calhar, espero um dia ter outra árvore, para lhe fazer companhia.
segunda-feira, junho 20, 2011
Cansaço
E se o último dia fosse hoje? Afinal, ninguém me viu. A menos que uma coincidência me tenha colocado a descoberto, no espaço que sobra de cortinas e persianas, no momento em que olhos indiferentes pousaram na janela, nesse ponto de improvável existência.
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Hoje não seria um mau dia. Não estou pior, mas não estou melhor. Olhando para o calendário, não vejo qualquer data significativa para adiar o momento. Vendo a agenda, não tenho impedimento para agora.
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Acaricio as gatas, uma a uma, e peço-lhes desculpa. Não merecem, mas há coisas que estão para fazer há demasiado. Fosse outro qualquer dia, seria o mesmo.
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Não será preciso escrever uma carta. Já disse muitas vezes e a muita gente, e há uma pronta há demasiados meses.
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Por que não hoje? A alma não morde na alma como nas tempestades. Porém, a minha vida não está em azul celeste e condimentada pelos assobios joviais de passarinhos esvoaçantes.
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Por que teria de estar amargurado na profundidade negra? Basta o cinzento dos dias banais para razão. Além disso, o tédio é o mesmo. Comigo é sempre domingo, com excepção do domingo, que é mesmo domingo.
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E se hoje fosse mesmo o último dia? Quem desconfiaria de festa no solstício?
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A preocupação são as gatas, que me impediram bastas. Bem, deixo-lhes comida para quatro dias. Por que não hoje?
Acerca de Deus
É improvável que Deus se tenha esquecido da improbalilidade. É improvável que exista. É improvável que não exista. É provável que esteja enganado.
Quietação
Olhos de doce inquietação e quieta doçura. Sorriso de ninar, mãos de carícia e voz de enlevar. Bondade transparente, corpo flutuante.
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Feitiço sem bruxa. Sensualidade de fumo e carne de desejo. Amor como quem faz amor. Dedicação de alma como se o amor fosse o único, verdadeiro ou o maior.
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Fantasma sem forma. Fumo que entra pelo sonho e quase muda a vida. A ternura dita por uma mulher terna. A ternura eterna.
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Mãe de alguém, alguém tão doce que só pode ter uma mãe como ela. Sem excesso e tudo o que pode dar uma mãe. A timidez ousada das mães.
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Faz amor com o amor que dão as mães. Toda a doçura da mãe ninando, tão verdadeira. Ansiosa e sensual como as mulheres que não são mães. Sôfrega como as mulheres que querem e beijam querendo, dizendo que não com a boca.
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Faz amor, com todo o empenho da segunda vez. Com os beijos quentes de quem foi deixada a meio de amar. Uma lindeza de perder.
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Olhos, sim, com toda a bondade. Boca, sim, do desejo e da verdade. Corpo, sim, do prazer e reconquista.
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Como esquecer? Os olhos doces de quem ama, ainda que não amando. Quieto desassossego. Desejo de muitos dias a desejar.
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Todo o mundo, uma mulher, uma mãe. Toda a vontade de amar.
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O meu beijo pairando pelo desejo de o agarrar, pela moça dos olhos de doçura.
sexta-feira, junho 17, 2011
Estado de graça
Um amor obscuro, no espaço escuro da casa vazia, é felicidade simples de almas complicadas. A felicidade é um estado de graça e a paixão uma doença de sorriso e tensão.
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A solidão e a memória, forças motrizes do ânimo das noites de intimidade suada. Do fundo do espaço escuro da casa vazia surgem alimentos da alegria do acordar com o abraço deitado ao lado.
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A boca guarda o sabor único da boca de beijo. Sem o riso não voam as bruxas do prazer. A paz do momento seguinte à euforia… estado de graça.
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Um amor obscuro dá luz a toda a vontade de querer mais. Ao deitar junta-se o corpo etéreo da amante e o sono trará o sorriso dos sabores intensos do seu corpo. Estado de graça.
terça-feira, junho 14, 2011
O céu
As estrelas que se vêem no meu céu são da cidade, que é plano. A Lua esconde-se atrás de casas.
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Longe, chama-se firmamento, por ter luzes firmadas. É escuro, acredita-se que negro, como uma pesada cortina de flanela.
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Nos ermos, o céu é cinema, e também teatro. Noites de Verão e tréguas de invernia. A Lua como família. Silêncio e muitos cheiros a brincarem às escondidas.
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A luz e a voz do lume. Na solidão e na presença. Conversa sobre tudo e nada.
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Sob as estrelas pode estar-se com os anjos e pensar em Deus sem pensar em nada.
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Longe, o céu é uma abóbada.
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Nota: Crê-se que esta é a mais antiga representação da esfera celeste, foi encontrada em Nebra, na Alemanha.
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Longe, chama-se firmamento, por ter luzes firmadas. É escuro, acredita-se que negro, como uma pesada cortina de flanela.
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Nos ermos, o céu é cinema, e também teatro. Noites de Verão e tréguas de invernia. A Lua como família. Silêncio e muitos cheiros a brincarem às escondidas.
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A luz e a voz do lume. Na solidão e na presença. Conversa sobre tudo e nada.
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Sob as estrelas pode estar-se com os anjos e pensar em Deus sem pensar em nada.
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Longe, o céu é uma abóbada.
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Nota: Crê-se que esta é a mais antiga representação da esfera celeste, foi encontrada em Nebra, na Alemanha.
terça-feira, junho 07, 2011
domingo, junho 05, 2011
sexta-feira, junho 03, 2011
O infinito tem cor?
Se o infinito é infinito, para qualquer lado para onde se olhe é infinito. E dentro dum espelho, espaço limitado de capacidade infinita, cabe outro infinito. Entre cada distância finita há um espaço infinito. Cada ponto é divisível infinitamente. A unidade é infinita. O infinito é intangível? E o que tem começo e não tem fim, é infinito? E esta frase é… ?
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