digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, junho 20, 2011

Cansaço


E se o último dia fosse hoje? Afinal, ninguém me viu. A menos que uma coincidência me tenha colocado a descoberto, no espaço que sobra de cortinas e persianas, no momento em que olhos indiferentes pousaram na janela, nesse ponto de improvável existência.
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Hoje não seria um mau dia. Não estou pior, mas não estou melhor. Olhando para o calendário, não vejo qualquer data significativa para adiar o momento. Vendo a agenda, não tenho impedimento para agora.
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Acaricio as gatas, uma a uma, e peço-lhes desculpa. Não merecem, mas há coisas que estão para fazer há demasiado. Fosse outro qualquer dia, seria o mesmo.
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Não será preciso escrever uma carta. Já disse muitas vezes e a muita gente, e há uma pronta há demasiados meses.
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Por que não hoje? A alma não morde na alma como nas tempestades. Porém, a minha vida não está em azul celeste e condimentada pelos assobios joviais de passarinhos esvoaçantes.
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Por que teria de estar amargurado na profundidade negra? Basta o cinzento dos dias banais para razão. Além disso, o tédio é o mesmo. Comigo é sempre domingo, com excepção do domingo, que é mesmo domingo.
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E se hoje fosse mesmo o último dia? Quem desconfiaria de festa no solstício?
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A preocupação são as gatas, que me impediram bastas. Bem, deixo-lhes comida para quatro dias. Por que não hoje?

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