digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, junho 26, 2011

(A)mar Eterno




















A paixão é um caleidoscópio, mas não tenho a certeza se a memória dos amores defuntos não é parda. Já me apaixonei por motivos diferentes, até por atrevimento. Em todas as vezes a vida foi imponderável, um descontrolo. Não sei se gosto. Devo gostar, ou não repetiria.
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Talvez a vertigem seja o meu maior vício. O desejo do prazer e de pisar o limite. A fome de corpo e de afectos. Não gosto de regras. Nunca gostei. Se me desenhares uma fronteira, eu atravesso-a com a coragem da minha ternura e poder de sedução. Olha-me nos olhos. Que dizes?
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Vertigem sinto eu… por mais palavras que digas e juras que faças. A qualquer ternura, temo cair sem rede. Tudo vale um beijo... Queres uma fronteira? É aquela linha no mar, onde começa a onda e termina o vento… entre o verde e o cinzento. Ultrapassa-a se fores capaz e traz-me o beijo mais salgado que consigas.
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E se a queda for maior do que a onda que se avizinha, vais lá estar para salvar a alma? Já não me restam lágrimas. E a minha voz secou de tanto gritar pelo teu nome ao vento, que assobiava com a fúria da tempestade. Imaginei-me com asas para te procurar entre as gaivotas. Desejei ser mulher sereia para descer às profundezas do oceano. Não tenho medo do mundo, apenas de ti.
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Se fores sereia e eu gaivota estaremos sempre perto, mas nunca juntos. Deixa-te ir, que resgatar-te-ei à espuma salgada. Em sonhos venço Neptuno… assim, frente a frente ao mar… Se fores nas ondas… em sonhos venço Neptuno! E porque amar é sonhar, vou ao fundo do mar resgatar-te… oiço-te, não por gritares, mas por te ouvir o coração chamar-me…
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Sigo a corrente, na esperança de encontrar-te. Um dia, quem sabe. O nosso amor é como a onda que rebenta, porque reconhece que a sua força chegou ao limite. Como a espuma que abraça a areia e as rochas para depois as devolver à solidão. Mas desistir não é o meu verbo de acção. O equilíbrio está na imperfeição e nas contradições do amor. Quem disse que o céu não sopra ao mar juras de amor eterno, de amantes e marinheiros?
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Que o amor rebente na praia e os corpos se limpem de areias... Que nos amemos indiferentes ao mundo, nas rochas, entre limos, e marés. Seja o que for, até nada… Se desapareceres entre vagas, gritarei ao mar e ao céu, para que quem te levou saiba que há quem te sinta a falta e saiba que amor não rebenta nem se afoga.
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O amor é um trapezista destemido, que desafia o perigo e arrisca o coração sempre que se expõe. Não tem medo do ridículo. De mostrar o seu lado mais frágil, de fraquezas, dúvidas e incertezas. De partilhar.
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Ama-me. Ama-me muito. Para que um dia eu possa dizer que provei o amor.
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Nota: Texto escrito a quatro mãos, duas minhas e duas (mais bonitas) de Rita Carvalho.

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