digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, junho 05, 2011

Gerês, noventa e três

Fugi para a Galiza e arrependido voltei na fronteira para o Minho. Chovia e convenci-te a ires encontrar-te comigo a Braga. Assim do nada e sem telemóvel para anular. Uma viagem precipitada. Chovia. O meu carro andava pouco mas levou-nos ao Gerês. Chovia. Preocupavas-te com o cabelo, mas não te zangaste. Não sabíamos onde dormir e ficámos na primeira casa que dizia ter quartos. Era verde à volta. Estava fresco e ouvia-se água, a cair e a correr. Era Abril, nesses anos costumava chover. Nessa altura os fantasmas não me deixavam dormir ou acordavam-me na noite. Não os vias mas tinhas medo. Eu tinha medo e fazendo-me forte fazia-te medo. Sem nada dizer, fazia-te medo. A minha pele transpirava medo e a tua voz, doce e tão genuinamente suave, dizia-mo. Fizemos amor nos intervalos do medo, fechando e abrindo as portadas, por causa das figuras, porque se insinuavam na penumbra ou porque se revelavam diáfanas na escuridão. A paixão era maior do que o medo. Tu eras uma miúda e eu tinha a mania que era homem. Quando penso nesses dias não consigo deixar de estar apaixonado. Chovia e tudo à volta era verde. Pensando bem, nem andámos muito, tudo nos juntava os lábios. Nem o antes nem o depois desse Gerês interessam muito. Nem sequer o Gerês. Passados tantos anos ainda sei por que me apaixonei por ti.

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