digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Efervescência

Flores, smarties, esquema de física ou astronomia. Copo de ginger ale.

Gato

A minha fibra alonga-se por toda a minha preguiça.

Garça

Uma garça em pleno voo, em ritual amantíssimo. Na árvore - as suas sombras - o ninho dos mistérios. Só se lamentam as penas perdidas sem propósitos. Não terá sido nenhuma.

W

É o seu nome. Está quase a ir-se embora. Sem saudades, só memórias.

À Janela

Frente à descoberta. Tudo para descobrir e construir. Esboço duma vida. Já passado e ainda futuro.

Cozinha de casa de campo

A mesa posta. A mesa da cozinha. A toalha simples. Os frutos na mesa. As flores presentes. As flores negligenciadas. Beleza abandonada. Chão de tijoleira, usado. Azeitonas e seus caroços. Madeiras, alfaias, barro. Água. Aromas térreos. Aromas silvestres. Aromas de apetite. A tarde toda. O sossego.

Gravidade

Poluição entre as carnes. Ilhas concêntricas. Mares magnetizados. Gravidade.

Suicídio

Se tiver coragem levo a minha cobardia até ao fim. Viro costas à praia e nado todo o oceano.

Regressão de memória

O passado do passado vem até nós. Sempre. Ainda que seja em sonhos. Ainda que seja no delírio.

Overdose

Amor estragado.

Afectos

O frio da manhã dá leite branco e quente. Os rebanhos são conforto e os borregos mimos e promessas.

Intimidade, mãe

Conheço-te.

Hiato

Esquecendo o tempo, a barragem é a paragem de vida. O compasso que traça o arco de tempo entre acções. É noite e pouco se pode fazer agora. É preciso esperar. Logo mais, mais tarde, muito mais tarde, haverá uma solução. Não sei se má.

Afectos

Minha mulher, minha mãe. Mas nunca minha mãe, minha mulher.

Apetite

Foste o meu jantar, amanhã serás a minha memória.

Dia

Um dia feliz para ti é um dia feliz para mim. Vem nos livros.

A fala

Tira-me daqui.

terça-feira, outubro 21, 2008

Dilema

A minha comprida vida segue em via estreita: dum lado o abismo e doutro o arame farpado. Nevoeiro à frente e muita coisa atrás.

Caminhos

Uma música de vento diz-me que tentaste não chegaste a mudar. A tentação por cumprir. Diz-me a mesma canção que não te chegaste a definir. Questionas: Por que escolher um de dois caminhos se se pode seguir pelos dois? És a mesma, não mudaste, mas só tu sabes se o vento diz errado.

Luzes














Enquanto contemplas o alto, contemplo-te. Se vês a luz, vejo-te a aura. Só vou até ti, já és inacessível.

As horas

Não tenho tempo, apenas horas. Sigo dia dentro e suspenso-me nas noite de angústia. Acordo na angústia de mais horas, na claridade. Apenas me sinto e dou nas horas de quase morte.

Suores frios

Faria toda a diferença se não me tivesses morto. Todavia, nunca nos demos bem neste dia. Mataste-me sempre um pouco, certamente por te ter mordido. Não guardo mágoa do teu rancor... mas os meus delírios não são nada perto da tua certeza precisa, mas errónea, de fantasia. Cá ficamos então, se nada dizer um ao outro. Escrevo-te cartas vazias, enquanto tentas pensar que nunca existi. Parabéns.

Fantasias

A fantasia está na minha relação contigo. De mim para ti. Não que sonhemos os mesmos sonhos, mas porque acreditamos sonhá-los a dois.

quinta-feira, outubro 16, 2008

terça-feira, outubro 14, 2008

Todo o tempo

Por todo o prazer, permaneço sem fim dentro de ti. Antes fui pavão, agora lago. Tu, estátua de pedra, quase eterna, espelhas-te-me. Maior que o mais longo abraço. Todo o prazer além e aquém do sexo, a fruta em torno do caroço. Permaneço. Pedes-me que fique. Não há tempo.

O lugar da verdade

A verdade tem-se nas mãos. Linha da vida. Linha do coração. Linha da cabeça. Os olhos assim o dizem.

Tavira 1987/9

Luz clara na noite escura. As ruas desertas na cidade pequena. Pirilampos, mosquitos e mariposas. Assistia ao fumo largo e público de quem fumava às escondidas. Um grupo vasto de quem não guardo afectos. De quase todos. O receio do escuro, mas não do cemitério de que saltei o muro. Receio do escuro e admirada boca boqueaberta pelo crânio descarnado. Descobertas e primeiros amores. Luz clara nas noites escuras. Era assim.

Afirmo

Vou-me embora, não faço nada aqui. Com verdade e orgulho afirmo: Estou melhor longe de mim.

O silêncio e o grito

















Confessa que sou a luz da tua vida. Confessa sob tortura. Torturas-me com o silêncio. Silencio a dor que me dás. Dou-te o que me dás, sou o que és. Um abraço infinito neste nosso sofrimento. A dor da luz entre o medo do escuro. Esperamos do outro o primeiro passo. Dois corpos nus em magnetismo suspenso. Falta quase nada.

Ler














Ter-te de costas é ler-te. Uma sonda. De mim para ti um fio de palavras ditas sem som. Leio-te e ouves-me por instinto. Um dia havemos de dormir juntos. Prometo-te à revelia.

Tá bem, abelha

Passar a vida de cá para lá e ter o mundo todo para a arrumar. Eu, num cais, não sei o que fazer dela e, contudo, ela contempla-me na sua indescritível beleza.


Nota: Não sei se é por ter estado muito tempo sem escrever, mas isto hoje anda mesmo pelo piroso.

Pirosada - flores que não sei o nome

- Meu amor, que levas aí?
- Rosas, senhor.
- As rosas têm espinhos e as rosas não carregam rosas.


Nota: Sim, é muito piroso, mas não resisti.

Amor

O amor não é a prisão. O cárcere é a vida que deixamos para o amor.

terça-feira, outubro 07, 2008

Negro

Se o futuro tem cor?... só o meu não tem, porque é a ausência de qualquer coisa. Não é perspectiva, é uma parede.

Não ter tempo

Ser o tempo e a cor. A queda quase livre na multidão. Não há mão que me segure a esta vida nem vida que me agarre. Ser a cor na cor é como ser-se escuro no escuro. Tenho fogo intenso, pelo que queimo. O ardor da sede. O desejo de ser outro. Em queda, perpetuamente em queda. Perpetuamente sobre a multidão. Em cor de fogo. Não tenho tempo.

sábado, outubro 04, 2008

Texto mínimo

Tudo num texto mínimo. A palavra amor. Só. Tu e eu.

O outro dia

Neblina de sangria, poder oculto dos dias sós. O frio até ao osso e a tristeza no fio da boca. Se o coração bate por ti é porque estás morta e a tua sombra perdura nas manhãs e tardes vagas.
Não deixo de te perdoar, todos os dias. Prova inegável de que não o fiz. Lábio na lâmina, a fronteira do sangue. O fio da vida.
Todo este lugar é morte, a que reside na melancolia. Persiste a sensação de montanha, o horizonte recortado e o vento certo de frente, nortada. No outro lado da casa há vista longa, mas esse lugar não tem nada a ver com este. É outro dia.