digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, março 24, 2008

Rendição novamente

Rendi-me há precisamente dois anos. Há dois anos que dou, em média, mais de uma por dia, a ler. O tempo passa sem piedade ou qualquer sentimento, entre a modéstia e a vaidade. Espero estar de parabéns.

quinta-feira, março 20, 2008

Arte apocalíptica

O mundo é a arte caduca de Deus. Quando o mundo acabar ficam as ginkgos. As ginkgos são arte perene.

quarta-feira, março 19, 2008

Modelo

Como homem modelo estou riscado. Não me falta nada. Tenho em abundância defeitos e virtudes. Se a minha opinião contasse seria um ideal recusado, desvalido, caído. A minha opinião não conta, pelo que me fico com a imagem que tenho e o sabor da que teria se não me riscasse.

segunda-feira, março 17, 2008

Rei

Na monarquia pensa-se demasiado, até em tirar o Rei. Na república deseja-se um Rei plebeu.

Tarde quieta

As tardes quietas são de sombra e estilhaços de luz. Os dias soalheiros cantam alegrias e os de chuvas fazem tristezas. As tardes quietas servem para bolos quentes e chá. Conversas acerca de coisas da vida, nem importantes nem fúteis. Pudesse eu e não haveria tardes quietas.

Sambento

As gares guardam nostalgias e transpiram saudades e ansiedades. Às gares partem alegrias e chegam tristezas, no movimento oposto dos comboios.
Em São Bento encosto sempre a cabeça ao vidro da janela da carruagem. Os olhos não querem fixar-se no vidro, mas algures no vazio da gare. Doi-me sempre partir do Porto.

Desalinhos

Espero sempre no Camões, como o país esperou Dom Sebastião. Se lhe leu, não terá sentido todas as dores que o Rei deu. Tinha as suas. A quem mais dedicar um livro. Por mim, espero. Espero sempre no Camões. Espero também no Camões. E quem me dera ter por que esperar.

sexta-feira, março 14, 2008

Tempos





Fui pessoas diferentes em diferentes espaços. Diferentes tempos. Lá fora chove, cá dentro faz Sol e dentro de mim um tempo incerto. Vida incerta. Diferentes tempos. Sempre eu. Diferentes pessoas em diferentes espaço. Um dia lá fora, que tempo fará?

É sempre tarde. Ainda cedo

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Os ponteiros apontam-me o tempo, mas o mostrador não me mostra o fim. Repetindo sempre, como os dias. Às voltas sempre, como os dias. O movimento quase quieto quando há tempo para ver. A comichão no estômago da espera. Os tremores dos dedos. O suspiro final. Repetição. Mecânica. Luz. Espaço. Às voltas, tanto faz.

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Vida repetida

Um dia. Dois dias. Três dias. Quatro dias. Cinco dias. Um fim-de-semana. A ausência de dor de cabeça. A ausência de objectivo. A ausência de motivo. A queima das horas. As horas de sono. Os minutos dos gatos. Os afectos dispersos. O sono leve. A televisão e o sofá. O sono longo. A televisão e o sofá. Um dia. Dois dias. Três dias. Quatro dias. Cinco dias. Um fim-de-semana. Recomeça.

Resumo interpretativo duma conversa

Um é egoísta e vaidoso. A outra faz coisas ridículas. A segunda é egoísta e vaidosa. O primeiro não deixa de ser ridículo. Só é cão de Pavlov quem quer e deixa. Uma pessoa não tem de ser essa pessoa. Ser egoísta, tal como ser vaidoso, é ridículo. Há sempre palavras que ficam por dizer ou custam a sair dos dedos – marca perene das afirmações. Se houver coragem, que se digam e escrevam depois. Depois há a estética, que tanto aligeira como oprime. Em parte, é tudo uma questão de luas… e de vontades.



Nota: Este texto é dedicado à Sa.Ra.

quinta-feira, março 13, 2008

quarta-feira, março 12, 2008

A magia

Ando há dois dias a ouvir-te. Há dois dias que sacio a vontade de te ouvir na voz de outras. Ouvi-te: Primeiro numa nesga de televisão. E quando afirmo nesga lembro-me das nesgas de rio em Lisboa. Nesga de azul. Como de azul te vi vestida. Luz em amplidão. Como a que te ilumina a voz e floresceu o encanto de palco. Segundo no gravador.

Esta posta é dedicada à Raquel Alão, a soprano da Flauta Mágica (que não é esta do vídeo, porque o You Tube não tem). A fotografia foi surripiada no seu blog.

terça-feira, março 11, 2008

Suspiro

Se Cristo é espírito e foi carne, por que o vêem de prata e ouro? Mais valiosas as palavras ditas e os sentimentos vibrados. Linhas de prosa face a incomparável poesia. Houvesse entendimento e já os dias seriam outros. Porque as palavras simples são difíceis de entender.
Se é mais fácil passar um camelo por um buraco duma agulha e se Deus e Cristo são espírito, por que são as

segunda-feira, março 10, 2008

Inquietação

Há flores vermelhas entre os despojos da guerra e dos sismos. Ao primeiro olhar é a única cor e só por vontade há um outro horizonte além deste diante dos olhos. Há a vida em suspenso sob o céu de trovoada madrugadora. O frio do vento de além, de além das montanhas, de além da fronteira.
Quando for manhã haverá vacas a pastar neste campo de sangue, um dia. Agora é tempo de sentar e esperar a volta da luz. É tempo de assentar enquanto o novo ânimo não chega. Momentos de suspiros.
A espera é uma floresta. Uma floresta de noite iluminada. Uma correria. Ânsia de chegar. Ânsia de partir. Ânsia de ser dia, tempo de parar, de todas as esperanças.
Enquanto os bandos não levantarem há o frio e o horizonte curto. Quem dera este vale fosse de clareira e a cara se iluminasse no luar. Quem dera. Quem dera.

Banda sonora

O engano de Adão e Eva

Por que foi a maçã a fruta da tentação? Não seria mais provável um maracujá, que é fruta da paixão?... ou morangos, que os enamorados apreciam com Champanhe no leito de núpcias? A maçã é fruta da maturidade, não da juventude empolgada. É calma e serena. Talvez Deus tenha castigado os dois primeiros amantes pelo tédio com que começaram. Antes tivesse sido a romã, que é fruta da amizade, pelos momentos delicados de pronto convívio, preâmbulo do beijo e da cama.

sexta-feira, março 07, 2008

Ilusão

Já se foram os tempos das palavras de amor. Não é ainda o tempo do cinismo, mas hoje acontece por dança e não por sentimento. Há palavras vãs e profundidades abissais que são apenas cutâneas. As densas e substantivas escondem-se e fingem-se indisposições de alma para haver cor. No que se diz e nos dias sucessivos.
Houve o tempo do amor e haverá o do cinismo, como ao ouro sucedeu a prata e ao bronze o ferro. Os dias não regressão nem as ilusões. Os segredos depois de revelados não encantam. Desta boca, por estes lábios, não saem mais palavras em ramalhetes. Não se ama, dança-se. É o tempo do bronze.

Vermelho

Vénus às vezes é mais a cor do que a forma. Porque o vermelho dá-me sensações, que a forma não dá. Porém, tudo me dá sensações. Vénus em todo o lado.

Alvura
















As flores brancas servem quando não há nada a dizer. Um momento prolongado de silêncio, em deleite e sem rancor. Dão-se em mãos cheias.

terça-feira, março 04, 2008

Pirosada das 23h23

Lamento, mas tenho saudades de Sevilha e dos amores que lá vivi e dos que ficaram por conhecer.

Nota: Que se há-de fazer quando bate o Sol no foleiro que existe em nós? Sevilha também é assim.

O tempo da chuva

Estás como a chuva no tempo das laranjas. Estás sempre. Sempre que estás trazes o sorriso das laranjas, fruta de Sol no Inverno.

Nota: Texto dedicado à amiga Blache aka Blondie, que me atura enquanto fuma cigarros.