digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, outubro 26, 2017

Teste de palavra-leitura-ânimo sem fronteira

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Se no universo, caindo pelo tubo negro-néon e das cores-néon, riscos de vertigem, como sonhos de inquietude, porventura sentindo a aragem da viagem, estaria todo-tudo, matéria e espírito, afogando-me numa ideologia utópica.
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É difícil, claro. Se compreendo o frenesim que vos assusta, mesmo descrendo, nas orações continuadas, não sei o que digo, se solicitação, se desdém de vida, se o labirinto de negrum sem portas, como se no universo caindo esperando o chão e sabendo-dúvida da vida e da morte, não sei mais, do condicional ao imperfeito.
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Contado isto o que espero, avisando das minhas interrogações serem afirmações, deixo-vos por mim adivinhar o que sou incapaz de definir. Se indizei-vos, dirão-me.
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A árvore de Alice.
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A nuvem.
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A flor do cardo.
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A cidade fechada.
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O caminho para um outro lado do mundo de outro mundo.
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A cadeira de chorar.
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Calado receberei tudo, fechando indignação e disfarçando. Até no instante se sente um hálito e cabe uma memória. A resignação não é em mim e não mo perdoo.

Contemplando

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Chovendo-te rubis e sobrevoar-te para roubar os bagos da granada.
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Pela pele de clara macieza, esperar vinho e mel.
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Que em ti fosse o luzir da vela na insónia e a chama te acendesse inteira, incendiando.
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Atrevido como os ribeiros, mas frágil como as margens, desço, na vergonha da derrota e da ousadia, até ao mar sem em ti permanecer.

quarta-feira, outubro 25, 2017

Don

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O negro tem mistério, esconde perseguidos, predadores e heróis. No escuro não há música, somente os ruídos incapazes de se recatarem. A revelação arranca o medo, à luz não há monstros e o sono tarda em cumprir-se.
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A noite é como outro mundo, quando as flores cheiram diferentemente.
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Como o sal tempera, um fino feixe acorda os arrepios e o engolir da saliva atrapalha-se na garganta dilatada. Não há medo como esse.
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Nas horas do dever ser-se acordado, a silhueta negra é uma vertigem de vontade de alcançar e receio de tocar. Como se a derrota importasse elevadamente e a vitória se indesejasse.
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O Don foge pelos corredores das ameias e encurralado deixa ao perseguidor o sombrero andaluz, a capa coimbrã e uma garrafa de Vinho do Porto.
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É esta uma glória do mistério sobre o esclarecimento, como o êxito do placebo sobre a doença.
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O Don revelou-se, em 1928, pelo traço e pintura de Georges Massiot. Perfeito, eterno e infinito como o paralelogramo losangular e impossível de Victor Vasarely.
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Gerou-se nos porões húmidos dos navios que, desde 1790, traziam lanifícios e carvão e levavam Vinho do Porto. Pernoitou secretamente antes de se erguer no negrume. Onde vive quando não sequestra a respiração e o olhar do espanto fantasmagórico? Nas caves de luz infiltrada, de carácter do ouro quase velho.
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Sempre de negro, com a elegância superior do Rei de Portugal embuçado, vestido para vencer. Isso consolava-me a fantasia.
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O Batman é maior desde que lhe tiraram o azul e o cinza. Hoje, o Don permite vislumbrá-lo, mas não é menos solene nem soberbo. Que bem, mas prefiro-o de fisionomia calada, como foi a Maçonaria antes de ser discreta. Ainda assim, a visagem é feliz, obra da Volta Branding & Digital Studio.
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O Don não se deixará capturar, desaparecerá na sua torre sem caminho, deixando uma garrafa de Vinho do Porto para o perseguidor se felicitar e ter desafio e alma na sua obsessão impertinente.
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Georges Massaiot
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Logótipo precedente ao actual.
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Dani Morell
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Nota: Gosto tanto do Don que anteriormente já o tinha convidado a estar no infotocopiável.
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segunda-feira, outubro 23, 2017

As que importam

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Nem o azul é triste nem o roxo é luto e o escarlate é da mania e raiva.

Cama

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À noite fazem-se meninos e de dia soltam-se demónios.

Assim desesperantemente mulher

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Nunca a mulher se enamorou quando se apaixonou pela palavra de quem lha segredou. É assim determinante e desafio para se desmentir.

Desejo de mariposa

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Quando estiveste nua, diante da janela de ver, acendi uma vela, iluminando-te a indiscrição e eu pedindo para promessa.
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Sonho-te de amor no pesadelo do desencontro eterno. Como fosses a flor e suas pétalas, de bem-me-quer-mal-me-quer, desfolhassem os meus dedos.
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No teu calor, desejo a queimadura da mariposa. Como a morte rápida e da saciação louca de razão. Revisito em sonhos o não-acontecido e bebo a agonia do falhanço.
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Peço-te – não dizendo e digo e desminto em modo e medida atabalhoada em ordem e número – que me queimes, porque me incendeias.

terça-feira, outubro 17, 2017

Ela

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Olhei-a nos olhos, nos instantes que demoram os segundos e as horas, e vi-a.
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Não sei se em verdade, mas vi-a.
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Naqueles olhos estava a sua nudez.
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Nessa brevitura caiu-lhe a roupa. Sorrindo, do envergonhado ao desdém e da provocação à cobardia, subiu-a.
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Assim purinha de perfídia absoluta, como a do gato predando.
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Um homem não vale nada. O espreitar da pele mata fulminantemente.
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As horas passam-se, o tempo é invisível e o inacontecido é eterno.
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Não sei se em verdade, mas via-a. Nua como o lume.

Faisão e vinho da Borgonha

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– Sentiu-lhe os lábios?
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– Isso importa-lhe?
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– …
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– Esta a ser controlador. A querer controlar-me e a ela.
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Não sei se a manipulação vem do controlo ou nisso se transforma.
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– …
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– Está apenas curioso?
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Até só isso pode sufocar.
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– …
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– Está. Sei que sim.
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Não. Não lhe senti os lábios. Nem sequer a beijei.
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Satisfeito?
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– Fantasio. Todas as noites. Cada vez que a vejo passar ou a pressinto ou julgo saber onde está. .
– É adolescência.
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– Depois há… não sei se consigo explicar… Por causa do meu desejo e da minha aflição… receio e angústia de ser por ela enganado. Contudo, não a tive… quanto mais tê-la.
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– A isso chama-se controlo. Não é o único modo, mas também é.
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– …
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– Tem algum compromisso com ela? Que esperança lhe deu?
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– Agora é sua vez de ser curioso, de ser controlador e manipulador.
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– Não seja cínico. Sabe perfeitamente…
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As minhas perguntas eram retóricas.
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Hesito… está transtornado pelo ciúme ou a ser impertinente. Não vale a pena continuarmos esta conversa, que não vale nada.
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– Desculpe.
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– Não tenho de desculpar o indesculpável.
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– Exagera!
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– Não exagero. Mas refiro-me a outra coisa, uma outra forma de perdoar.
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– Como assim?
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– Não o posso perdoar e por várias razões. A mais óbvia é que não fez nada que verdadeiramente valesse a pena pedir desculpa, mas a regra da gentileza assim o impõe.
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O mais importante, ao que me refiro, é a impossibilidade de negar o que se disse. As palavras não recuam. Está dito, seja grave ou indiferente. E o que não tem remédio, remediado está.
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– Não sei se não lhe…
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– Esqueça isso, homem.
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Conte-me lá, o que vos liga.
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– Quase tudo. Porém, fica de fora o que não depende de mim.
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– …
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– Fantasio. Já nos beijámos e já nos tivemos. Porém, não sobrou nada para a realidade.
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– Quando me perguntou se – ou tentou perguntar – se a beijara, respondi-lhe com verdade e sombra. Não lhe contei tudo.
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– …
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Então… explique-se, estou impaciente.
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– Não lhe beijei os lábios. Não lhe toquei nos lábios da boca. Contudo, tive os outros, longamente, do nascer do silêncio após todos se deitarem até ao sono de cansaço no amanhecer.
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– …
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Sinto-me corno!
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– Aquele sentimento que escarafuncha. O medo disso acontecer, mas quase desejando que aconteça. Para ter um motivo para chorar e se escravizar no ciúme.
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– Como foi capaz?!
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– Lembra-se do que me perguntou inicialmente? Disse-lhe que estava a ser intrusivo, com vista a controlar e manipular.
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Acabou de me responder.
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– Estou envergonhado!...
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– Não esteja. Foi sincero.
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As respostas é que acabam por ter importância. Se não lhe disser nada, não tem nada. Seja a pergunta relevante, impertinente, desnecessário ou abissal.
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Digo-lhe mais. Tive-a sem a ter
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Como vê, estamos encadeados pelo desejo e equivocados quanto à sua vontade.
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Só nos diferenciamos quanto ao modo como gerimos esses sentimentos. O senhor é controlador e eu desafogado.
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– Não creio. Serei, mas o senhor também o é.
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Não há posse na fantasia?... Até ao ciúme.
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– …
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Reconheço. Enfim, reconheço. Confesso-me apenas calado.
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Que este segredo fique entre nós.
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– …
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Aceito um Porto branco com água tónica. Fresco.
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– Falta tempo para o jantar. Dá tempo para pedir alguma coisa extraordinária. Jantamos?
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– E o Porto tónico?...
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– Sirva-se.
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Jantamos? Só nós.
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– E se ela…
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– Se ela aparecer convidamo-la para se sentar connosco.
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Muito provavelmente, isso não acontecerá.
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Apetece-lhe alguma coisa em especial?
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– Faisão. Será possível?
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– Provavelmente não… Leva tempo.
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– Poderemos beber um Borgonha?
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– Claro que sim.
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O faisão… Quer fantasiar.
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Beberemos o Borgonha como se tivéssemos o faisão na mesa.
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Vou mandar abrir uma garrafa.
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Em que ano nasceu?
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Acompanho-o no Porto tónico.
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– O jantar será?...
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– Esqueça o faisão. Concentre-se no Borgonha.
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Olhe, esqueça lá isso da idade, do ano do seu nascimento.

segunda-feira, outubro 16, 2017

O rio e a nascente-foz

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A angústia é um forte de claras em castelo rijo como carbono, de entrada e permanência, até se deslavar.
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O tédio é uma flor iluminada por cinzento opaco, camuflada no jazigo, e demorada em todas as horas.

Margem

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– Permita-me, a pergunta…
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– …
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– O senhor quem é?
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– Está em minha casa e não sabe quem sou?
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– O que tem dentro que lhe ilumina com escuro.
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– É uma pergunta ou uma afirmação ou uma constatação?
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– É uma pergunta.
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– Não a entendo como tal.
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– Diga-me, então… Diga-me quem é, por favor.
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– Quer que lhe responda… quem sou ou o que sou?
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– Sim… parece estranho, mas é isso. Ser e ser nem sempre são o mesmo verbo.
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– Quem sou. Sou o dono desta casa.
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Quem sou. Sou esta casa.
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– Somos sempre… a soma.
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– Somos, somos e parecemos.
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– Isso importa?
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– Tem dias.
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– Uma confortável situação financeira não significará felicidade, mas certamente ajuda.
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– O que é a felicidade?
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É a liberdade?
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O que é a liberdade? É ter tudo ou não possuir nada?
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– Será as duas coisas, em proporções variáveis, conforme quem avalia.
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– Pouco me importa. Nesta questão, pouco me importam os outros. Em mim, sou absoluto. Até na dor, na solidão, na ánima. Dias e noites são diferentes, em tudo. Absolutamente tudo.
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– É livre?
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– Nunca o poderei ser.
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– Porquê?
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– Por causa da dor. Tenho dias em que tudo importa. Noutros, nada faz sentido.
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– A euforia e o túnel.
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– Não sofro de euforia. Que trabalho mais seria.
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– Nunca é feliz?
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– A euforia não é alegria. Como o silêncio não é tristeza.
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– Não sei se entendo.
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– Quase toda a gente não entende.
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Conhece a linguagem das cores?
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– As cores da agitação, da alegria, do desassossego… é isso?
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– Não. Isso está entre o místico e o óbvio.
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– …
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– Pense numa palavra. Deixe-a abrir e soltar-se. Quando a tiver diante de si, observe-lhe a cor.
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– Não sei se conseguirei.
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Aliás, não entendo.
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Não entendo nem como podem as palavras ter cor nem como podem as palavras ter uma cor universal.
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– E tem a certeza que a sua matiz – quando olha para uma folha ou para outra coisa qualquer – é igual à dos outros?
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– Não é?
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– Creio que não. Convictamente, nem me parece lógico.
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– A cor é substantivo.
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– Engana-se! A cor é também adjectivo.
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– Compreendo…
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– Se as opiniões – acerca de qualquer coisa – nunca são as mesmas, de pessoa para pessoa, por que haveria a cor ser unânime?
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– Entendo. Somos mais sensíveis a um tom e não a outro… tenho de admitir que será com tudo o que percepcionamos. Todos os sentidos…
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– Não apenas os sentidos nem apenas as divergências por situação.
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Uma casa não é a mesma para si e para mim. Corrijo, uma casa, em concreto, não é igual para si e para mim.
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– Não faz sentido. Isso não faz. É uma coisa.
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– Não. Não sabe o que é o tempo?
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Note… as margens do rio são de circunstância. Nenhum momento se repete completamente.
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– A água passa ou não volta a passar sob a mesma ponte.
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– Um pouco mais do que isso. Mesmo que pudesse ou possa, o tempo de passar, a conjugação de todas as coisas não pode ser a mesma.
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– Todas as regras têm excepção. Haverá, com certeza, uma probabilidade matemática para…
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– Para nada. O que não se sabe pode existir? Sim ou não. Não sei. Por isso, a probabilidade matemática está fora desta equação.
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– Compreendo, mas não concordo.
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– Ouvi dizer que até mesmo não haver regra sem excepção é falso. Ouvi, não sei, que há uma regra matemática que não tem excepção.
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– Desconheço.
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Certamente sabe que não se apurou a raiz quadrada de dois. Mas sabe-se que terá de existir.
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– Estaremos cá para saber essa resolução. Aliás, seremos cá para saber essa resolução.
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Não são interrogações. São afirmações, exclamações.
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A humanidade pode extinguir-se antes de tal ser encontrado.
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– Como os dinossáurios.
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– Sabemos que existiram, mas especulamos acerca da sua inteligência. Nem se sabe – pelo menos em alguns casos – como se deslocavam. Volta e meia descobrem que há ossos que estavam noutro sítio do esqueleto estavam num outro lugar.
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– As conversas devem ter um tema. Já viájamos para fora de pé e não me respondeu quem é.
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– As conversas devem ser de liberdade.
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Quanto a quem sou… descubra no que lhe disse. Se prestou atenção ao que lhe disse e se tiver memória.
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– …
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– …
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– Talvez não importe.
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– Sou contradição e diversidade. Sou constantemente inconstante. Sou a casa.
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– A casa…
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– A sua casa é diferente da dos outros.
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– Se a dividir com alguém, não.
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– Faltou-lhe atenção ou memória… As margens são inconstantes.
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– Não sei se é friamente racional ou se escaldadamente pueril…
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– Tenho um medo irracional de louva-a-deus.
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– …
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– …
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– O bicho nem lhe pode fazer mal. Pode esmaga-lo facilmente.
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– Não lhe disse que é um medo irracional?
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– Respondeu-me … é irracional.
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– Não. Sou eu. Às vezes frio e noutras precipitado.
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– …
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– Entende?

O Citroën

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Contudo, o dia não aquecia nem arrefecia. Pudesse o tempo ser verde como as sebes e sê-lo-ia. Pudessem as sebes serem azuis e sê-lo-iam. Pudesse o céu… A vida complica-se, apesar dos olhares.
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– Não irei começar aquilo para o qual não tendes paciência para tempo nem pensamento.
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– Por que não?
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– Porque vivemos o nosso tempo e não outro. A comichão devida à picada dum insecto dói mais do que o pé partido de alguém.
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– Isso é cobardemente falso! Porque se sabe relativizar. Porque se sabe retórica. Porque a preguiça é conhecida há milénios e se vê a olho desarmado.
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– Isso da preguiça… é verdade. Custa dizer. Custa mais quando se sabe da natureza, somos preguiçosos. Se a falar, ainda mais a ouvir. Já julgar é simples. Justificar é complicado. Por isso, o juiz preguiçoso, mas inteligente, sentencia para si e cala-se. Antes malcriado, pelo silêncio, do que maçar-se em dar importância.
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– Vê aquele pardal?
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– Vejo.
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– …
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– Porquê?
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– Por nada… por isso mesmo. Pensa que se importa além do sobreviver, seduzir, procriar e alimentar?
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– Então?!
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– Redutor ou tolo… talvez errando por paralaxe… Não é essa a nossa vida?
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– Simplório… se me permite. Não o senhor, claro, mas o raciocínio.
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– Acha?
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– …
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– O que faz na vida depois de nascer? Sobrevive, e graças a Deus não sabemos de fome, na puberdade aprende a seduzir e há-de casar-se, ter filhos.
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O Jaguar tornar-se-á numa monótona viatura com espaço para cadeiras para bebés. Dirá adeus aos seus higiénicos luxos.
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Quando crescerem irão sair com os amigos e no ano novo talvez estejam consigo à meia-noite.
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Será velho quando quiserem saber novamente de si.
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Talvez na meia-idade se divorcie… talvez encontre um novo amor, ou dois ou o verdadeiro, quinze anos mais jovem… possivelmente comprará, se puder, um descapotável … mas o Jaguar, ah… ainda que o tenha, esse não o terá a si.
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– Isso é tão redutor quanto patético.
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– Evidentemente! Mas verdadeiro. Pode acontecer antes ou depois – ou para confirmar estatisticamente não acontecer – com ou sem Jaguar… irrelevante! A meia-idade!...
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– Isso não acontece na natureza. Extrapola, sentencia, especula, ajuíza, prevê, determina…
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– Pode ser. Mas em que, exceptuando a tecnologia e as coisas, somos diferentes aos animais?
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– Os bichos não conduzem Jaguares!...
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– Vê como percebe? Vê como a derrota – há-que dize-lo – lhe calha bem. O humor é milagroso.
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– Anestesia. Queima. Calcina e reconcilia,
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– Por isso, nada me preocupa.
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– Mas meditabunda.
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– É verdade. Mas isso… sabe… bem sabe, claro que sabe, da diferença entre ser e parecer. Ainda há o ser e o ter. Ainda mais a confusão de ser-se o que se tem.
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Ser-se triste e ser-se triste não é o mesmo. Estar triste é ainda uma esperança… há uma outra tristeza, quem nem um sorriso disfarça e só a intimidade permite.
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Mais do que um superlativo, uma essência.
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Pode estar-se triste, ainda sendo triste, mesmo rindo, há um sítio – não consigo agora explicar melhor, mas já o pude, estou distraído ou cansado – onde o amargor impermite o doce, o escuro anula a sombra e a graça da alegria, ainda que breve, é dádiva impossível de merecimento – assim se o sente.
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– …
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– É isso.
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– Não seio que dizer…
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– Não diga. É tão absoluto quanto inexistente. Não acontece um quase ou um assim-assim. É-se. É-se num local ou num tempo – ou dois, talvez. Sente quem sente e poucos o compreendem, até quem sente.
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– Absoluto e inexistente?…
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– Não acontece assim-assim.
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– …
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O que se faz?
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– …
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Não sei.
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– Não sabe?
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Não o vive? Não sente?
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– Não sei explicar.
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Sabe por que os meus carros são pretos?
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Porque não podem ter outra cor. Nem serem feios.
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– …
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– Só o Corniche.
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– …
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– Sabe, detesto pavões. Os bichos. Não por se exibirem. Metem-me medo. Aquele leque de plumas… as fêmeas, não sei… são pavoas. São horríveis!
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– Então, por que os tem?
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– Acho que é obrigatório, em jardins destes.
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– Isso é tão… burguês! Se mo permite… uma aparência, uma exibição.
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– Nem mais. Pequeno como um burguês.
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– …
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Então…?...
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– Então, é isso. Em algumas coisas temos que ser pequenos e burgueses.
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– O que é diferente de pequeno-burgueses…
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– Essa é uma gente diferente, nem é carne nem…
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– Nem peixe!
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– Nem legume.
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Não quero ser arrogante – fica mal a qualquer um e mais ainda a mim, porque sou eu e me julgo – ser-se burguês é ser-se, de alguma forma, ratazana. Mais do que o ratinho, a quem lhe devora a ração, mas menos do que o gato doméstico, a quem lhe serve presas ocasionais para lhe poupar a vida. O pequeno-burguês é um rato sujo e andrajoso – ratazana – pequenino em índole, disposto a ser uma ratazana sem escrúpulos.
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Resumidamente – banalizando e abusando na falta de rigor. Sem a simplicidade do ratinho nem a nobreza do gato, o pequeno-burguês e o burguês.
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– Então, e os pavões?
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– Maça-me… maçam-me, mas não sei explicar. Fazem parte do parecer.
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Ter pavões no jardim é uma obrigação inquestionável. Como a das vedetas, que têm de pousar, fazendo carinhas, boquinhas, escolhendo posturas corporais impraticáveis, quando lhes apontam uma câmara fotográfica.
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– Não esperava isso de si.
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– Não sei o que esperava nem espera de mim… não querendo ser desagradável.
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Não querendo ser desagradável nem presunçoso nem falso nem cómico, não sei o que esperar de mim. Limito-me a estar.
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– Estar, é o quê?
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– É. É simplesmente. Nem bem nem mal nem outra coisa. Apenas estar. E esperar que o estar e a necessidade de estar coincidam. E óptimo é se o ser também o for.
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– Complexo ou complicado.
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– Complexo e difícil. Tento contextualizar, condescender – comigo, com o mundo e com as situações – e aceitar. É difícil, mas tem de ser.
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É como este jardim. Nem perguntou a esta vida se o deve ser. É assim e é o que é.
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– É fácil. Nasceu rico e pouco lhe exigem.
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– Mas aí está estão as dificuldades!...
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Embora difícil, é possível entender o peso de se ter nascido rico – Príncipe. Não o disse, mas é esse o foco.
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Complicado é nada lhe exigirem. Nem que seja pousar a coroa.
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Nada! Ter tudo e ser pouco.
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Não sei se entende.
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– Tentarei. Irei pensar.
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– Conhece o Boca-de-Sapo?
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– ...
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– É um carro formidável. É mais do que belo, é uma obra de arte e de engenho.
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Os carros permitem-nos ir e levam-nos ou lavam-nos a cabeça.
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Vem comigo?
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– Se o puder conduzir.
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– Irão reparar, mas não verão um pavão.

domingo, outubro 08, 2017

Espanha, Castela, Catalunha e mais umas coisas

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Sancho III de Castela. Iluminura do «Compendio de crónicas de reyes del Antiguo Testamento, gentiles, cónsules y emperadores romanos, reyes godos y de los reinos de Castilla, Aragón, Navarra y Portugal», datado do início do século XIV.
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Penso que a independência da Catalunha é um erro, mas esta vontade não surge do nada. Nem nos é difícil entender esse desejo – duma maioria ou minoria – pois temos inúmeros exemplos do azedume do centro peninsular, o herdeiro de Castela, quanto a Portugal.
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Nunca Castela, nem o seu posterior prolongamento como Espanha, digeriu o incómodo de não possuir este pequeno rectângulo com umas ilhas no Atlântico e que se estendeu por quatro continentes.
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Nos sessenta anos em que o Rei de Espanha foi Rei de Portugal, a importância do nosso território traduziu-se no importante lugar que o brasão português ocupou na ordenação heráldica do ocupante.
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Nem mesmo o casamento antigo com o Reino de Leão ficou isento da arrogância castelhana. A soberba castelhana pode começar (?) a marcar-se pelo desrespeito pelo primeiro país que tragou. O leão heráldico, do Reino de Leão, de púrpura passou a vermelho, de modo a que se fosse obtida uma melhor combinação cromática.
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Embora a troca dos esmaltes já acontecesse antes, Carlos I de Espanha – Carlos V como Imperador do Sacro-Império Romano-Germânico – ainda respeitou as armas seculares, pelo menos em algumas situações. Só após 1580, quando acrescentou o escudo português, é que Filipe II de Espanha lhe alterou o esmalte. A partir daí, o leão ficou sempre de vermelho.
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O azedume do centro peninsular revela-se em coisas menores, como o incómodo pelo sucesso de José Mourinho ou as vaias, de alguns adeptos do Real Madrid, a Cristiano Ronaldo, alguém a quem devem estar gratos, pela dedicação ao clube e importância para o seu êxito.
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O franquismo foi uma continuidade do que vinha de trás. O imperialismo castelhano não conhece lado político nem opção de regime.
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Gaspar de Gusmão.
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Melhor do que ninguém, o Conde-Duque de Olivares, o poderoso ministro de Filipe IV de Espanha, traduziu o que foi e, em grande medida ainda é, a política imperial duma parte sobre o todo.
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«Tenga V. M. por el negocio más importante de su Monarquia el hacerse rey de España; quiro decir, Señor, que no se contente V. M. com ser rey de Portugal, de Aragón, de Valencia, Conde de Barcelona, sino que trabaje y piense, com consejo maduro y secreto, por reducir estos reinos que se compine España al estilo y leys de Castilla, sin ninguna diferencia».
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Heráldica
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A alteração do esmalte do Reino de Leão não foi imediato. O último monarca leonês foi Afonso IX. Sucedeu-lhe o seu filho, que reinava em Castela como Fernando III. No século XV o leão ainda surgia em púrpura.
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Grande Armorial Equestre do Tosão de Ouro – 1430 a 1461 – João II de Castela e Henrique IV de Castela – Branca I de Navarra e Consorte João II.
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Livro do Armeiro Mor.
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Possivelmente, foi no reinado de Joana I de Castela que o esmalte foi trocado. Contudo, no Livro do Armeiro Mor – 1509 a data incerta – o leão aparece ainda de púrpura. Entre a época em que começou a ser criado até a uma data provável de conclusão, este armorial português refere-se ou a Joana I, soberana herdeira do trono, ou, mais crível, ao Consorte Filipe I, visto na legenda surgir Rei de Castela.
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Desde então, o brasão de Leão surgiu sempre com o mesmo esmalte do de Castela. Embora a composição do desenho completo das armas tenha variado, conforme os Reis, os vários desenhos dos brasões repetiram-se em diferentes monarcas. Atestando a superioridade castelhana atente-se na simbologia republicana.
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Joana I de Castela e Joana I de Aragão (Filha dos Reis Católicos) e Consorte Filipe I – 1479 a 1555.
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Carlos I Imperador Romano – 1516 a 1556.
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Filipe II, Filipe III, Filipe IV e Carlos II – 1556 a 1580 e de 1580 a 1700.
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Com a crise Dinástica do século XVII, a representação naturalmente divergiu.
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Carlos VI Imperador Romano (Sacro-Império) – 1685 – 1740.
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Filipe V, Luís I a Fernando VI – 1683 a 1759.
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José I Bonaparte – 1808 a 1813.
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Carlos III, Carlos IV, Fernando VII e Isabel II – 1716 – 1904.
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Amadeu I – 1870 – 1873.
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Primeira República – 1873 – 1874.
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Afonso XII e Afonso XIII – 1874 a 1931.
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Segunda República – 1931 a 1939.
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Estado Espanhol (Franquismo) – 1939 a 1975.
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Reino de Espanha.
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A Democracia, recuperada em forma de Reino, recuperou o esmalte original do Reino de Leão, embora apareça aqui de forma deslavada. Castela, Leão, Aragão, Navarra, em ponta Granada e sobre o todo Bourbon.
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Aragão e Catalunha
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Aragão antigo.
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Já agora, refiro que o brasão que, durante séculos, representou o Reino de Aragão não é o original. Entre Ramiro I e Petronilha – 1035 a 1164 – foi usado um símbolo que viria a ser recuperado em 1982.
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Catalunha e Aragão moderno.
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A Petroninha sucedeu-lhe o marido, Afonso II, Conde de Barcelona – desde então, o escudo de ouro com quatro palas de vermelho tornou-se sinónimo do Reino de Aragão.
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O novo brasão aragonês passou a constar, idêntico ou com composições acrescentadas, nos domínios deste país: Ducado de Atenas, Condado de Barcelona, Reino de Maiorca, Condado de Provença, Reino de Sicília e Reino de Valência.
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Autonomia de Aragão.
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A Região Autónoma de Aragão escolheu um brasão referenciado no final do século XV. É composto pelos símbolos do Reino lendário de Sobrarbe, Reino de Aragão (antigo), evocação da Batalha de Alcoraz (1096) e Condado de Barcelona. A representação do recontro passaria a representar o Reino de Sardenha, concedido pelo Papa Bonifácio VIII, em 1297, em favor a Jaime I.