.
O negro tem mistério, esconde perseguidos, predadores e
heróis. No escuro não há música, somente os ruídos incapazes de se recatarem. A
revelação arranca o medo, à luz não há monstros e o sono tarda em cumprir-se.
.
A noite é como outro mundo, quando as flores cheiram
diferentemente.
.
Como o sal tempera, um fino feixe acorda os arrepios e o
engolir da saliva atrapalha-se na garganta dilatada. Não há medo como esse.
.
Nas horas do dever ser-se acordado, a silhueta negra é uma
vertigem de vontade de alcançar e receio de tocar. Como se a derrota importasse
elevadamente e a vitória se indesejasse.
.
O Don foge pelos corredores das ameias e encurralado deixa
ao perseguidor o sombrero andaluz, a capa coimbrã e uma garrafa de Vinho do Porto.
.
É esta uma glória do mistério sobre o esclarecimento, como o
êxito do placebo sobre a doença.
.
O Don revelou-se, em 1928, pelo traço e pintura de Georges
Massiot. Perfeito, eterno e infinito como o paralelogramo losangular e impossível
de Victor Vasarely.
.
Gerou-se nos porões húmidos dos navios que, desde 1790,
traziam lanifícios e carvão e levavam Vinho do Porto. Pernoitou secretamente
antes de se erguer no negrume. Onde vive quando não sequestra a respiração e o
olhar do espanto fantasmagórico? Nas caves de luz infiltrada, de carácter do
ouro quase velho.
.
Sempre de negro, com a elegância superior do Rei de Portugal
embuçado, vestido para vencer. Isso consolava-me a fantasia.
.
O Batman é maior desde que lhe tiraram o azul e o cinza. Hoje,
o Don permite vislumbrá-lo, mas não é menos solene nem soberbo. Que bem, mas
prefiro-o de fisionomia calada, como foi a Maçonaria antes de ser discreta. Ainda
assim, a visagem é feliz, obra da Volta Branding & Digital Studio.
.
O Don não se deixará capturar, desaparecerá na sua torre sem
caminho, deixando uma garrafa de Vinho do Porto para o perseguidor se felicitar
e ter desafio e alma na sua obsessão impertinente.
.
.
Georges Massaiot
.
.
.
Logótipo precedente ao actual.
.
.
.
Dani Morell
.
.
.
Nota: Gosto tanto do Don que anteriormente já o tinha convidado a estar no infotocopiável.
.
.
.
.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário