digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, fevereiro 12, 2013

Ai, ai...

Viver o não-tempo é tão penoso quanto o tédio, tão penoso quanto o ter-que que não apetece. Há dias na vida que trocava por dias de vida. Estar morto não é problema, o problema é estar sem viver.

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Estar vivo


Hoje fumo um cigarro, para esquecer ontem. Hoje tomo os comprimidos que me porão como anteontem. Hoje beberei água e trabalharei. Hoje acordei para não me apetecer. Hoje fugirei daqui.
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Estás linda a meu lado, dormindo enquanto as minhas palpitações comprimem o coração, afogam o respirar e oprimem a alma. Se estivesse a morrer, acordarias…
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Deste dia não haverá memória. Ameaça de chuva, frio e tédio.
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Esmagado, encastrado num sofá, vejo que não acabei o uísque. Sem ressaca, o odor da ressaca está no copo. Agora está tudo quente, ou pior, morninho.
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Na inquietude do sono, a humidade da vida. Se é Inverno, devia ter frio.
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São dias destes que confrontam: para que serve viver?

domingo, fevereiro 10, 2013

Três rosês com banda sonora

Olá, como se viu no texto anterior (no blogue do lado), não gostei muito da Essência do Vinho. Entre alguns  encontrões, ainda poucos porque eram 15h00 e picos, deu para provar três vinhos, todos rosados.
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Rosado, um critério como outro qualquer. Não tinha muito tempo, era impossível ir a todas as bancas… enfim, fui colher rosas e não me piquei. Três propostas para tragar com muito prazer. Três produtores que têm lugar habitual aqui no blogue: Adega de Borba, Casa de Cello e Sogrape.
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Estes vinhos não são comparáveis, podem facilmente completar-se num dia bem passado, quando o calor dilata os corpos e encolhe as roupas. Vinhos para convívio marcado para o fim de tarde e final nocturno… dançar na praia, com gente amiga… o mar a bater, os olhos a seduzirem… quero ter outra vez 17 anos.
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Encontro a partir das 18h30 em casa da Inês e do Paulo, com piscina e praia perto. Duche tomado depois da praia e uma vontade louca por água fresca e uma sensação palpitante na pele (devia ter posto mais protector solar). Saciada a sede e acolchoada a barriga, para que a naite (night) não seja aos tombos, momento para o primeiro vinho.
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Mateus Sparkling. Espumagem suave e elegante. Que coisa boa! Refrescante, sensual, com muita maçã (verde e golden smith) e pêra Williams. Que bem que vai com uns salgadinhos, um queijo de cabra para comer à guloso.
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Vegia Rosé 2011. A Casa de Cello não bota pra fora os vinhos logo a seguir ao seu (suposto) término. O vinho aguenta mais um ano. Ai aguenta, aguenta. Ai aguenta, aguenta. Este tem um absolutamente salivante aroma a framboesa, uma doçura de cair para o lado. Porém, na boca é seco. Muito seco. Dizem os amigos do Cello que vai bem com peixes gordos. Azar! Não como peixe… tenho a certeza que as febras na brasa até se lambem ao saberem que vão juntar-se na mesma refeição. Este é dos rosados que mais prazer me deu alguma vez beber.
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Adega de Borba 2012. Sensacional aroma a pastilha elástica de morango. Os miúdos, todos menores de idade, vão adorar… depois caem, mas hão-de se levantar. E os seus pais e amigos adultos? Vão passar a noite de copo na mão, a gulosarem-se com gelado e sorvetes, de melão, morango, groselha, limão...
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Já se sabe que a dada altura um arma-se em urso e vai beber cerveja. Mas como Deus castiga, não com paus nem com pedras, mas com sua divina sabedoria… o malandro terá ressaca no dia seguinte.
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Há sempre dois que acabam com Água das Pedras e os outros divertem-se com rosé até ser dia, sem sombra de ressaca.
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Depois há que acordar tarde, ir para a praia e… a festa repete-se.
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Mateus Sparkling
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Origem: X
Produtor: Sogrape
Nota: 5/10
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Vegia Rosé 2011
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Origem: Dão
Produtor: Casa de Cello
Nota: 7/10
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Adega de Borba Rosé 2012
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Origem: Alentejo
Produtor: Adega de Borba
Nota: 6,5/10

A vida vive sempre


Não te quero confrontado pelo medo, logo tu, herói de vida. Há sonhos e pomares de laranjeiras. Olhos que viram tanto, têm vidas para contar. Há alma e altura guardadas no repouso inquieto dos dias correntes; tudo ao mesmo tempo, passando diante das vistas. Não chegam os abraços e é tanta a generosidade, quanto as promessas e os sonhos em catadupa, as palavras desenfreadas, verdadeiras na essência. Há coisas que te não posso dar, mas posso dar-te um beijo na alma infantil e abraço ao teu abraço; enlace que tenta unir o céu. Se até hoje não envelheceste, não poderá ser o medo que agora te derrotará.
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Nota: Para o grande amigo Carlos Fagulha.

sábado, fevereiro 09, 2013

Banho da memória






















Vi e logo chegaram os dezanove anos, quando quase dormimos e te vi tomar banho. O campo debulhado, o calor e o corte de cabelo. A vida estava prestes a mudar, mas naquele Verão tudo era Primavera.

sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Sob a sombra

Disseram que Zanskar é uma terra maravilhosa e distante. Disseram-me como se fosse uma terra de literatura, de literatura oral. Disseram-me que só foi descoberta, para além dos antepassados de quem lá está, em meados do século vinte.
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Disseram-me, é certo que sou crente. Tanto faz. Fica longe e é terra de mitos. Lá chegaram poucos, porque são poucos os que lá vão.
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Agradam-me as terras impossíveis, os territórios invisíveis nos mapas, os reinos de pouca gente. Sou sedentário e com os pés cansados. Não irei a Zanskar.
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Aqui tenho Sol e não me obrigam a andar. Basta-me uma imperial fresca e uns amendoins ou pevides de abóbora. Basta-me a chuva e um cálice de vinho, quente cá dentro.
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Basta-me o chão e os olhos bastam-se no pavimento. Sossegam-se na monotonia dum cão a passar e alegram-se fantasiando coisas obscenas quando passa uma bela rapariga.
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Olho e vejo árvores. A cerveja desfoca além da linha dos pés, quando as pernas estão esticadas. A sombra seduz-me, cruzada com a música inquietante de ébria. Os tremoços acabam por enfastiar, no Verão comem-se caracóis, mas gosto mais de amêijoas à Bulhão Pato, das verdadeiras.
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O dia roda e as sombras esticam-se, pardam-se, intensam-se. O que fica entre a sombra e o chão. Enigma de física, religião ou filosofia? Poesia de se esquecer. Vinho.
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Sob a sombra há um espaço ínfimo-infinito. Uma terra de anões microscópicos, que colhem floras específicas da penumbra. Esse mundo acaba quando o lusco-fusco se apaga e renasce sossegado no primeiro bocejo da manhã.
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Sob a sombra, um reino ínfimo-infinito. Zanskar, por que não?

terça-feira, fevereiro 05, 2013

Azul como o limão

Tirei o doce ao limão e bebi o amargor, sonhando com veneno e como se estivesse consciente.
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Dizem que o azul é triste. Não sei, não percebo. Triste seria a vida sem azul. E a luz sem azul.
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Triste será o verde, que dizem ser da vida.
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Enjoa-me mais o amarelo, do limão. Até lhe prefiro o amargor.
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O negro é luto? Seja, viuvez de luz. E toda a cor é a coisa nenhuma que o branco não é.
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Cru, despojamento. Sem luxo nem glória. Tecido tosco, humildade. Luto?
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Ah! Magnífico é o escarlate e o carmim é eminente. O azul é real.
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Real é o azul do céu, sítio sem alcance. Azul é triste? Triste é só beber limão com açúcar.

Nós aqui tão perto

Essa luz que seguras nos olhos é sol e água e ar. A boca de maternidade, nem zangada se embruxa, mas de beicinho endiabra. Com as mãos seguras sem agarrar, o abraço é agasalho e o beijo é refresco de água em dia de sede. É tudo o que te quero dizer antes de te mentir.