digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, junho 17, 2013

Duas pessoas, um texto estúpido e duas imagens



Se te tivesse conhecido noutra vida... fora num tumulto qualquer, com reis guilhotinados. Nesta, sou morto para te amar e tu sempre em comícios.
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O que gosto em ti? Essa raiva de construir, que tem tanto de leite. Se te sonhasse, seria de ternura profunda e acção, como os gatos.
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Não te conheço... o que importa, se és actriz? Tenho o mesmo direito de sonhar.
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És do mundo e engano-me noutro lado qualquer. Gostava de te encontrar entre Vénus e Marte. Se, pelo menos, tivessemos entrecruzado o olhar.
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Sem que nos entrecruzassemos no olhar...
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És uma viúva negra. Querendo ter-te, sabendo-te o perigo, suicidar-me-ia em tesão.
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Quem tem no mundo um caminho, nunca poderá amar quem não quer seguir caminho algum.
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Quem vê passar, pode sempre desejar quem deixou para trás o aroma duma forte vontade.
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Nunca pediria que me amasses, porque nunca se pede e amo paisagens quietas. Mas invejo quem luta e com quem se deleita.
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Vistas de negro, de escarlate, d’ambas, doutra cor qualquer, tens na voz a locução da guerra. Vista-me do que for, terei sempre os olhos submissos.

domingo, junho 09, 2013

quarta-feira, junho 05, 2013

Livro

Quando se deseja a primeira edição dum livro é por amor às letras, para fazer amor com uma virgem.
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A mim não me importa quantas noites dormiram sem mim. As páginas arrancadas e perdidas são rugas para contar.
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Como o pai se derramou, se entornaram as palavras.
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A vida começa e fenece, os livros arrumam-se na estante.

Olhos bem amados




















Amar-te é um golpe baixo que dou à tristeza.

A miúda perdida

Lembro-me da temperatura da língua, que tinha a força das coisas frágeis. Que tinha o tesão da quase inocência.
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Nada que diga faz o tempo voltar. Fiz-lhe amor dormindo ou acordado no ócio. Esmeralda perdida.
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Não parece que foi ontem. Parece que foi nunca. E nunca foi. Um ramo de flores sem Outono.
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Morrerei sem voltar aos lábios que me amaram por tão pouco. E sem nunca lhe ter morrido no leito.

terça-feira, junho 04, 2013

Para os dias tristes

Para te distrair destes dias tristes, qualquer coisa que não se tenha de fazer, para fazer o que dará para lembrar. Queres um beijo ou que te empurre?

Praga e piedade






























A boca é uma nascente. A mais pura não vem de cima, mas do meio, às vezes do fígado.
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Que chores sempre que te lembres. Que te doa o meio da alma. Que arranques os cabelos.
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O que te disse de doce será diabetes. O que disse de mal saberás quando te julgares livre.
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Os beijos chegaram-me ao coração e vivi. Com a ausência, septicemia.
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O corpo vive fantasma. Depois de passar, penar ainda mais, até que a eternidade se esqueça.
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Dor de horizonte ao entardecer. O silêncio das rochas no mar.
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Lágrimas pela piedade da vida que se cala ao entardecer.
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Todo o choro que se tem. Todo o fingimento. Toda a dor que não tem nada a ver e se vai buscar para chorar mais.
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Despedida e derrota. Dias amarfanhados. Até uma alegria e outra tristeza. Por diante.
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Despedida de bílis. Faltando o sangue, sonhando a morte.
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Sem insulto, só pena: a minha; e inveja de ti, sempre feliz.

Síndrome de Peter Pan

Se não fosse tão idiota seria mais velho.
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Nota: Sou eu e o Marcelo.

Talibã

No metro ia um tipo com turbante roxo e barba comprida, mal enjorcada para os padrões estéticos vigentes. O tipo era escuro e enquanto o via conversava comigo:
– Duvido que na América o considerem caucasiano... É muito escuro, mas é caucasiano.
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Fustigo-me por pensar tal coisa... o que importa? Homo sapiens sapiens; viemos todos de África, temos uma mãe comum, a tal de Eva, que, parece, existiu mesmo, assim o determina o ADN mitocondrial. Blá, blá, blá, a globalização...
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Perguntei-me, porque não tinha mais nada para pensar, donde seria? Índia, Paquistão ou Ceilão? Poderia ser sikh... com turbante e barba? Há muitos por aí. Um talibã?... viria do Bangladesh? Há talibãs no Bangladesh? E sikhs?
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A ideia do talibã agradou-me, mas a chatice da minha cabeça convenceu-me de que seria sikh e do Bangladesh.
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O que fará alguém do Bangladesh vir perder-se em Lisboa? Isto é um fim do mundo, um extremo, uma Europa irrelevante.
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Como se constata ao observar a posição geográfica, ninguém chega a Portugal por engano; não está em nenhum caminho, é um fim das estradas.
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Que vida estúpida teria no Bangladesh para vir aparvatar-se aqui? Por que veio perder-se aqui?
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Se fosse um talibã, pelo menos, significaria que Portugal importa alguma coisa para o mundo. Mas o gajo era sikh e do Bangladesh.
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Nota: Se tivesse sido em Badajoz poderia ter sido para comprar caramelos.