No metro ia um tipo com turbante roxo e barba comprida, mal
enjorcada para os padrões estéticos vigentes. O tipo era escuro e enquanto o via conversava comigo:
– Duvido que na América o considerem caucasiano... É muito
escuro, mas é caucasiano.
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Fustigo-me por pensar tal coisa... o que importa? Homo sapiens
sapiens; viemos todos de África, temos uma mãe comum, a tal de Eva, que,
parece, existiu mesmo, assim o determina o ADN mitocondrial. Blá, blá, blá, a
globalização...
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Perguntei-me, porque não tinha mais nada para pensar, donde
seria? Índia, Paquistão ou Ceilão? Poderia ser sikh... com turbante e barba? Há
muitos por aí. Um talibã?... viria do Bangladesh? Há talibãs no Bangladesh? E sikhs?
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A ideia do talibã agradou-me, mas a chatice da minha cabeça
convenceu-me de que seria sikh e do Bangladesh.
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O que fará alguém do Bangladesh vir perder-se em Lisboa?
Isto é um fim do mundo, um extremo, uma Europa irrelevante.
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Como se constata ao observar a posição geográfica, ninguém
chega a Portugal por engano; não está em nenhum caminho, é um fim das estradas.
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Que vida estúpida teria no Bangladesh para vir aparvatar-se
aqui? Por que veio perder-se aqui?
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Se fosse um talibã, pelo menos, significaria que Portugal importa alguma coisa para o mundo. Mas o gajo era sikh e do Bangladesh.
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Nota: Se tivesse sido em Badajoz poderia ter sido para
comprar caramelos.
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