Sei que vai parecer estúpido ou inteligente, em sentido literal. Parecer burlesco ou deprimente, quando deduzido. Lamechas ou arrogante, conforme se quiser. Piroso ou tocante… Mas vou escrever à mesma.
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Gosto de pessoas. Como poderia não gostar de pessoas? Paternalismo? Soberba? Um afecto que me esburaca por dentro quando me comovo. Comovo-me com facilidade. Dizia-me uma namorada que eu sou uma mimosa, forma mais imaginativa de flor de estufa. Não sou sentimentalão, sou sensível.
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Estava eu no Facebook e vi uma fotografia, de alguém que não conheço, e senti vontade de conhecer. Porque me pareceu ser bom homem. Porque atrás daquela fotografia tem quem o ame. Quem não o ame. Tem sonhos e tristezas. Alegrias e enganos. Já foi mais novo e não se sabe até quantos chegará.
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Gosto tanto da espécie humana como, às vezes, a odeio e mostro profundo desprezo. Mas amo. Porque não se pode viver sem amar: as pessoas, os animais, a vida, as flores, as grandes árvores… tudo pode ser amado. Digo que amo tudo, até o que não amo. Esquizofrénico, ambidestro mental.
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Odeio o mal que há nas pessoas. Repudio a mesquinhez, a soberba, a falta de princípios, a boçalidade… mas não deixo de gostar das pessoas. É amor e não paixão. Não é um amor grande como o de Cristo. Mas é amor.
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Tenho amor ao mesmo tempo que tenho desavenças, intrigas, sofrimento, pânico, depressão, cinismo, hipocrisia, mentira, premonição, predefinição, preconceito, interesseirismo. Tenho essas coisas todas e mais outras que não me ocorrem.
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Gosto das pessoas. A velhice dá-me ternura, apesar de saber que um velho não é sinónimo de boa pessoa. Gosto da maternidade. Gosto da paternidade. Gosto da irmandade. Gosto da amizade. Alegro-me com os sorrisos, mesmo quando estou triste e, até mesmo, com lágrimas. Revolto-me com muitas coisas, mas quase nunca ajo… muitas vezes para, depois, não me comover mais. A infância dá-me ternura, pelos olhares do progenitores, familiares, amigos e todas esperanças, embora saiba que muitas criancinhas serão, um dia, filhos da puta.
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Não há amizade interesseira. Ou há amizade ou não há amizade. Pode haver traição, acabando ou fazendo perigar a amizade… mas interesseirismo não combina com amizade, são antónimos.
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Tenho medo da doença. Afligem-me os doentes, enterneço-me com a morte. Não uso luto. Razão provável da minha dificuldade em fazer o luto dos amores passados e da amizade que deixou de o ser. Quero amar toda a gente, ser amigo de todos… acredito que é possível. Sou mortal e pecador, longe da angelitude, longíssimo de Cristo… a muitas eternidades de Deus.
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Amo todas as minhas ex-namoradas. Não deixo de amar nenhuma. Estão todas arrumadas na sua gaveta. Como estão os amigos. Quando as recordo sinto todos os bons momentos que tivemos e aí volto a ama-las. Depois distraio-me com qualquer coisa e volto a não amar ninguém.
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Também amo os animais, a comida que me alimenta e o vinho que me alegra. Há o amor maior de todos que é o da mãe… que é tão grande quanto o de sua mãe, porque era mãe da mãe. De lá para cá, há a reciprocidade da parentela. De lá para cá há o amor de Cristo que é maior do que o dos homens, que ama mais do que o amamos. Há ainda o amor de Deus, que é maior que o amor maior de todos.
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Ainda não estou em momento em que pense na minha salvação. Deixo que outros sejam anjos e conformo-me com a minha mundanidade, com o tamanho pequenino da minha alma. Preocupo-me ainda mais com o corpo do que com a alma. Mas amo, já sou capaz de amar e amo muito, amo muitos e quero amar mais.