digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, maio 12, 2010

Quando deixei de rezar não me senti mais só. Quando deixei de rezar foi por uma revolta por Deus não me dar o que quero. Deixei porque todo o egoísmo pode caber numa oração. Porque toda a gratidão deve existir nas palavras da fé.
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Quando deixei de rezar não me orgulhei disso. Apenas abandonei Deus, como ele nunca mo fez. Abandonei-me, pois. Deixei de pedir, porque não vi satisfeitas as minhas preces de pedinte.
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Na verdade, sou um homem de pouca fé e muito egoísmo. Por orgulho deixei de pedir até aquilo que todos desejamos… o amor, a saúde e a amizade. Já agradecimentos, pouco os fiz.
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Sou um homem de pouca fé. Sou um ateu dentro dum crente. Ou um ateu crente. Agnóstico sei que não. Porque o meu umbigo é o centro de todo o universo e os meus pedidos ordens.
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Deixei-me em pausa com Deus, mesmo sabendo que me ama. Merdifico todas as relações, corroo todas as teias. Como um lacrau que não resiste a picar-se, matando-se. Assim, mato-me aos poucos, estrago o que me dão, mas exijo ainda mais.
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Incinero-me nas chamas dos pecados, por um gozo estúpido que não gosto e digo não desejar. É um impulso forte para o salto sem rede sobre o precipício. Vontade suicidária, antecedendo o choro e a auto-comiseração ingrata, laudatória e cínica.
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Sou um poço de negrume, fantasma deambulando no Purgatório, desejando o Inferno. Não pertenço a nenhum lugar. Quero-os todos e desisto. Deus dar-me-ia o consolo e o equilíbrio, mas como um lacrau, suicido-me... aos poucos.

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