Música para a casa nova.
digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.
sexta-feira, novembro 09, 2012
segunda-feira, novembro 05, 2012
Frio ou sopas
Não gosto de artistas e não tenho paciência para poetas. Os distraídos
irritam-me e enfurecem-me opiniões divergentes. Gosto do sossego
do-que-nada-muda. Gosto da arrumação e da autoridade.
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Posso tolerar tudo e abdicar que quase tudo. Mas não perdoo
a atrasados.
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Quanto ao resto… tenho pouca paciência para mim.
Dias que são noites
A minha fé é egoísta e a minha dúvida não se acalma com uma
igreja. A alma espera a luz, mas o ânimo cede ao peso do granito do templo, o
corpo confunde-se indeciso. Nos dias tristes, a luz não passa nos vitrais e
Deus está ocupado. Não há acalmação da melancolia, pasta pegajosa de
indolência, lentidão e desânimo.
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Há dias em que se é cigarro que a vida fuma; pior: cinza que
a chuva leva. Dias de natureza morta e quartos de sombra. Dias de passado. Dias
de lonjura.
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Não quero ser peixe, mas também não quero isto. Deus não
quer saber das minhas birras e eu perdi a confiança. Nem canário. As gaiolas são
tristes, tiram luz aos olhos.
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Há um sufoco que entontece e derruba. O sangue aquece-se na
frieza da vida e transborda das veias, em fúria. O corpo cede ao seu peso e a
alma perde-se nos escombros.
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O azul não paga portagem e o negrume é luz que não se apaga.
A sombra não tem burburinho, esse está no lusco-fusco. Mas as auroras e os
entardeceres estão encostados à noite, onde o silêncio assassina. Os dias… se
tivessem luz, eu acreditaria em Deus.
Rua
A rua é onde as intimidades se ocultam e as personalidades
se misturam. A rua é castanha e tem barulho. Até na calada há eco de passos e
se nada se passa, então a rua não existe. A rua não é uma praça, onde as vozes
se unem e se fazem multidões. As praças são os olhos das cidades, mas as ruas
são as mãos. Há ruas tristes, dos bairros sossegados. Há ruas luminosas, que
têm vistas. Há ruas feias, de gente feia. Há ruas lindas, de lojas lindas. Há ruas
falsas, de gente perigosa. Há ruas de e para tudo. E gente de toda a espécie em
todas as ruas, como nas praças. Agora que deixo a minha fica-me um amargor por
amar e a incerteza dos amores novos. Como em pequenino, tenho medo do escuro.
Calor
O Sol que chapeia a minha fachada só me aquece o corpo. Sou um
burburinho de cascalho rolante, rio sem água.
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Quem olha a monotonia do chão não vê a transcendência do
manto e desconhece que o fresco do enterramento dá, mais abaixo, lugar a um
calor de suor.
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A memória da água é mais longínqua que a boa vontade da
minha imaginação. Onde distraidamente se passa em diante houve um rio, antes um
glaciar e antes princípios de mundo.
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O Sol seca e a chuva ilumina dos seixos. Pedras que apedrejam
por dentro quando o Sol apenas bate sem pensar.
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Sei que se me deitar e me esquecer só a terra me saberá. Um dia,
uns palmos frescos, dormirá o corpo. A alma vagueará à procura de calor.
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