digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, novembro 05, 2012

Dias que são noites

A minha fé é egoísta e a minha dúvida não se acalma com uma igreja. A alma espera a luz, mas o ânimo cede ao peso do granito do templo, o corpo confunde-se indeciso. Nos dias tristes, a luz não passa nos vitrais e Deus está ocupado. Não há acalmação da melancolia, pasta pegajosa de indolência, lentidão e desânimo.
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Há dias em que se é cigarro que a vida fuma; pior: cinza que a chuva leva. Dias de natureza morta e quartos de sombra. Dias de passado. Dias de lonjura.
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Não quero ser peixe, mas também não quero isto. Deus não quer saber das minhas birras e eu perdi a confiança. Nem canário. As gaiolas são tristes, tiram luz aos olhos.
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Há um sufoco que entontece e derruba. O sangue aquece-se na frieza da vida e transborda das veias, em fúria. O corpo cede ao seu peso e a alma perde-se nos escombros.
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O azul não paga portagem e o negrume é luz que não se apaga. A sombra não tem burburinho, esse está no lusco-fusco. Mas as auroras e os entardeceres estão encostados à noite, onde o silêncio assassina. Os dias… se tivessem luz, eu acreditaria em Deus.

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