A minha fé é egoísta e a minha dúvida não se acalma com uma
igreja. A alma espera a luz, mas o ânimo cede ao peso do granito do templo, o
corpo confunde-se indeciso. Nos dias tristes, a luz não passa nos vitrais e
Deus está ocupado. Não há acalmação da melancolia, pasta pegajosa de
indolência, lentidão e desânimo.
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Há dias em que se é cigarro que a vida fuma; pior: cinza que
a chuva leva. Dias de natureza morta e quartos de sombra. Dias de passado. Dias
de lonjura.
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Não quero ser peixe, mas também não quero isto. Deus não
quer saber das minhas birras e eu perdi a confiança. Nem canário. As gaiolas são
tristes, tiram luz aos olhos.
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Há um sufoco que entontece e derruba. O sangue aquece-se na
frieza da vida e transborda das veias, em fúria. O corpo cede ao seu peso e a
alma perde-se nos escombros.
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O azul não paga portagem e o negrume é luz que não se apaga.
A sombra não tem burburinho, esse está no lusco-fusco. Mas as auroras e os
entardeceres estão encostados à noite, onde o silêncio assassina. Os dias… se
tivessem luz, eu acreditaria em Deus.
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