digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, junho 24, 2006

Questão cardíaca

Quando se está ferido morde-se sem ver.
- O que fazer com um amor antigo?
- Recicla-se em amizade.
- E se não fôr possível?...
Eu, cancro, me confesso em estado de voragem: escrevi um texto de raiva. Estava tão sedento de sangue que atirei letras a ferir alguém que tanto amo (não há outro verbo) e há tantos anos.
Agora choro e compadeço-me. Tenho pena de mim e lamento tudo o que não fiz. Olho para as vísceras desenhadas e penso nas minhas a palpitar e nas dela e no quanto já bateram juntas e acertadas, no quanto andaram zangadas e no silêncio fingido de frio em que estão hoje.
Hoje não jantei com uma ex-namorada... tardiamente sentei-me triste e lembrei-me de todas as outras antes dela até encravar naquela, na única, de quem não estou amigo. Desatei a puxar dos pontos, atrás deles saquei das feridas, das infecções e das dores, estiquei a pele, escarafunchei a carne e raspei o osso, quase ao vómito medonho. Quando sentia o ardor acre a doer-me jorrei agressões pelos dedos, vomitei ciúmes antigos, novos, razoáveis e delirantes... consporquei-me de cio fétido até chorar.
Depois de chorar... depois de lavar os olhos e a cara. Lembrei-me de todas as palavras bonitas que ela me disse já depois da nossa relação ter terminado. Limpei os olhos e apaguei o texto. Deixei ficar a imagem e o título. Fui muito bruto e injusto. Gosto tanto dela!

Nota: Este texto é dedicado a quem pensa que lhe é dedicado...

6 comentários:

Folha de alface disse...

dp do golpe, há q sarar as feridas...ou pelo menos apazigua-las.
(gostei da sugestão p post lá no "folha")

Ana Fonseca disse...

As palavras são armas poderosas! É preciso ter cuidado ao usá-las... especialmente porque são, muitas vezes, boomerangs... És tu, que as lanças, quem acaba por sofrer com elas!
Ainda bem que há pessoas que ainda se arrependem! E ainda bem que há erros que podem ser apagados!

João Barbosa disse...

Oh Aninhas, ainda por cima ela não merecia!... Há dias e noites atravessadas...

calvin disse...

As noites são mais longas, quanto mais obscurecidos estiverem os pensamentos. Para saires da sombra tens de aceitar a luz e renunciar ao orgulho. Colhemos o que semeamos. Somos vítimas da nossa imprudência, egoísmo e intolerância. Para perdoar não são necessárias palavras, mas actos. Por vezes, basta apenas um gesto.
Reconcilia-te com a vida. Nunca é tarde demais para começar de novo.

João Barbosa disse...

adoro-te Calvin!

Anónimo disse...

:))