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Houve uma altura de vida de que não me quero lembrar do que fiz. Sei bem do passado, mas não quero saber. Estava em mim e fora. Era eu e uma outra pessoa. Respirava uma só vez, tinha um só coração e não dormia. Não dormia, porque em mim viviam duas pessoas. Quando uma deveria adormecer, a outra acordava. Viviam em mim duas pessoas e tive sempre um só corpo. O que fiz não me quero lembrar. Não quero dizer. Houve uma altura em que vivi duas vezes. Vivi o pesadelo da minha vida e vivi a minha vida em pesadelo. Não sei se sonhava que tinha pesadelos ou se vivia num pesadelo em que sonhava. Quem era e quem sou? Tinha o mesmo rosto? Há em mim três pessoas: a anterior ao pesadelo, a do sonho mau e a sobrevivente. Que cara tenho, sempre a mesma? Será que as minhas feições mudaram? Há um passado de que não me quero lembrar. Foi há tanto tempo. Foi ontem.
1 comentário:
Poderá ser sempre ontem, mas serás sempre um sobrevivente... e quem cá está agradece-te por isso. Um beijo do tamanho do teu coração (é nhonhas, mas é o que sinto :) )
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