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O meu olhar é triste como o da minha mãe como o da minha avó e como parentes antigos.
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É a minha meia-idade, que não me envergonha nem amedronta, mesmo sem um descapotável encarnado, rede de apanhar miúdas impressionáveis, é sonolenta, interessante como a hora do almoço de balconista ou escriturário.
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Tenho a pele presa por si mesma, porque o Sol impõe. Não posso fazer nada sem viver à sombra, como vivo.
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A água morna torna-a areosa. Não posso fazer nada além de poupar a higiene e não vou cheirar mal das axilas.
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Dos meus destroços, da vida quotidiana e universal, o lixo vai para o aterro e o resto vai para reciclar.
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Os poemas sem poesia valem como os resíduos indiferenciados, não são recicláveis e, pensando a correr, não são reutilizáveis.
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Há poetas que juntam palavras como se fossem poemas e, mesmo sem poesia, têm palmas e até ganham prémios.
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Desejo que os meus poemas sejam lidos, traduzidos, estudados, premiados e que, acima de todos os tudos, sejam poesia.
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Não leiam mais do que escrevi nem diferentemente ao posto. Este texto não é um poema, é um conjunto de pequenos parágrafos.
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