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Digo-te que estou triste, mas sobreviverei. Fico triste, porque é triste ficar na esperança de ir. Fico triste se não me dizem. Fico triste. Triste.
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Tenho uma porta, no sítio onde me encontram. O resto são paredes, janelas e ombreiras, quem as vê, se quiser, pode acreditar ver-me a caminhar, fugir ou apanhar fruta. A quase todos, não importo.
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A porta é clara em parede escura ou ao contrário. A maçaneta parece um maçaneta, a fechadura não tem chave e se espreitarem não verão. É simples rodar a maceta e empurrar para abrir, mas não querem. Fico triste, dói.
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Acreditam que não vou, por isso não estarei, nem se interessam, sabem nada, mas não querem saber.
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Dói. Dói. Até o sangue dói. Não querem saber antes, não querem saber depois.
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Parece que o sangue se transforma em lágrimas e as gotas salgadas correm nas veias. Dói.
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Consola-me ter o seu desprezo para lhes fechar a porta, para não verem onde estou, mas não irão.
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Invisível para não lhes dar espanto. Se quisessem saber.
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Vou onde me chamam e me querem bem. Gostaria que fosse a Terra toda e todos os espíritos da carne e do éter. Mas não, e dói.
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Onde estou, não me vêem nem verão, porque lhes fechei a porta, mesmo que não o saibam nem queiram. Ainda assim, fico triste. Dói.
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Dói. Dói. Onde estou não me verão chorar.
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Se virem? Não vêem nem verão, porque não querem saber.
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Estou noutra rua, doutra cidade, a preto e branco, janota ou mendigo, invisível noutro século.
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Porém, dói. Quando me dói fico triste, fico triste e dói.
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De qualquer forma, ainda bem que perguntaste.
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