digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, setembro 08, 2024

Azul, azul de azul tão azul

 

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Receio tocar no assunto, porque ao fazê-lo sei que a porta se abre e voo para baixo, e a queda não finda.

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Penso em madeira: o caixilho da janela, o soalho como mosaico ou o piano.

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Poderei sair e ver o céu que prevejo azul, azul de azul tão azul.

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Do chão não passo e o teclado dar-me-á. Dará ao dará, o que for, voto por azul.

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Contemplo as teclas, adianto a direita, a esquerda enjeitou-me, hesito como num salto. Não sei tocar nem cair.

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Da fenestra para dentro há luz escurecente do ânimo. Claridade feia, podia calar-se a revelar-me o estado da minha alma, conheço-a da sentir.

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Escolho uma cadeira para ver o azul.

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Nesse meu sonho as pernas esticam-se correndo para a pedra da janela onde deixo os pés libertos.

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Estou na prisão, por não saber fazer mais nada.

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Não quero saber, se dizem amavelmente haver azul, tomo o rebuçado dessa cor, apago a luz da sombra e, sem olhar, contemplo os destroços como uma obra de arte.

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Resto de olhos fechados com o sorriso mais azul. Ninguém mo roubará. Lá fora é azul e esconjuro bicho.

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Azul, azul de azul tão azul.

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Não volto a tocar no assunto! A arte é o que se quiser e quero que seja.

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