Receio tocar no assunto, porque ao fazê-lo sei que a porta se abre e voo para baixo, e a queda não finda.
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Penso em madeira: o caixilho da janela, o soalho como mosaico ou o piano.
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Poderei sair e ver o céu que prevejo azul, azul de azul tão azul.
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Do chão não passo e o teclado dar-me-á. Dará ao dará, o que for, voto por azul.
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Contemplo as teclas, adianto a direita, a esquerda enjeitou-me, hesito como num salto. Não sei tocar nem cair.
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Da fenestra para dentro há luz escurecente do ânimo. Claridade feia, podia calar-se a revelar-me o estado da minha alma, conheço-a da sentir.
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Escolho uma cadeira para ver o azul.
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Nesse meu sonho as pernas esticam-se correndo para a pedra da janela onde deixo os pés libertos.
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Estou na prisão, por não saber fazer mais nada.
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Não quero saber, se dizem amavelmente haver azul, tomo o rebuçado dessa cor, apago a luz da sombra e, sem olhar, contemplo os destroços como uma obra de arte.
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Resto de olhos fechados com o sorriso mais azul. Ninguém mo roubará. Lá fora é azul e esconjuro bicho.
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Azul, azul de azul tão azul.
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Não volto a tocar no assunto! A arte é o que se quiser e quero que seja.
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