digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, setembro 13, 2024

Arestas

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Amaina e volta e retorna e regressa desatinado, o mar. Maravilhado numa angústia de amor, a que se obedece por não poder outra.

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Não sei se lhe gabe as ondulosas virtudes femininas ou lhe tema a ira do marido contrariado.

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Olho-o aprisionado, como os antigos. Tal faria eu se tivesse o céu nocturno inteiro, com todas as estrelas, as mortas e as vivas, como no tempo dos velhos.

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Não sei se o mar é verdadeiro ou um teatro e não sei o mesmo dos luzeiros celestes. E são diferentes.

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O camponês, ignaro da letra, lia o céu e não há vidente que saiba de mar. O firmamento é verdade e o corpo marítimo é a contradição repetente e irrepetitiva.

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O mar, o que é? A verdade é verdade e se o não é, é porque se permite. A fotografia não me elucida, nem a sisuda nem a fingida.

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Vemos o mar, o que deixa. Seja na claridade barroca ou na taciturna melancolia da névoa – dos mesmos modos nas noites, nas suas diferenças.

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Do céu? Se a nuvem se afastar e à noite ainda mais, com a permissão das lâmpadas.

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As estrelas desenham-se com poucos traços e as ondas com muitos riscos. Contudo, o céu e o mar não têm arestas.

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