digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, dezembro 03, 2017

Olhava para algum lado

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A professora da primária quase me chumbou na segunda classe, porque olhava para algum lado.
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A professora da primária quase me chumbou na quarta classe, porque olhava para algum lado.
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A professora de Português escreveu que não tenho imaginação e cumpria os mínimos e olhava para algum lado
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A professora de Educação Visual escreveu que não tenho imaginação e cumpria os mínimos e olhava para algum lado.
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Depois, tão longe, a professora de Educação Visual só não me dava a nota máxima, porque estava marimbando-me para a disciplina e porque olhava para algum lado.
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Depois, tão longe, a professora de Geometria Descritiva deixava-me fazer tudo à mão, qualquer mina, lápis sem ponta afiada, sem compasso, sem régua e sem esquadro, desde que definisse o correcto, porque estava marimbando-me para a disciplina. Não me chumbou, porque estava a olhar para algum lado.
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Depois, tão longe, a professora de Português só não me dava nota a máxima, porque olhava para algum lado.
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Depois, tão longe, o professor de Português só não me dava a nota máxima, porque olhava para algum lado.
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Depois mudei-me, a professora de Português só não me dava nota a máxima, porque olhava para algum lado.
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Escrevi poemas inocentes, medíocres e parcialmente plagiados, da adolescência fazendo-se culta, e estava a olhar para algum lado.
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Desenhei alguma coisa, inocente, medíocre e parcialmente plagiada, da adolescência fazendo-se culta, e estava a olhar para algum lado.
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Depois fotografei, porque estava a olhar para algum lado.
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O tempo tem sido-me de tédio e de olhar para algum lado.
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O tempo é-me quase indiferente, esperando quem se atrasa e quem não vem.
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Frequentemente, esqueço-me do amor-próprio, porque quero olhar para o lado e estou a olhar para algum lado.
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Escrevi um romance de cavalaria.
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Escrevi um romance.
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Escrevi um livro de coisas-estórias.
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Escrevi um romance de cavalaria para crianças.
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Não sei respirar sem desenhar.
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Não sei respirar sem escrever.
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Não consigo parar a cabeça, porque está a olhar para algum lado.
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Perco as chaves, quando estão fora do sítio, porque estou a olhar para algum lado.
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Alguém está errado. Possivelmente eu, porque estou sempre a olhar para algum lado. A minoria tem sempre razão, está nos livros de História.
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Esqueci-me que olhava para algum lado quando disseram que não tenho imaginação.
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Quando olhava para algum lado, li as palavras no ciclo preparatório. Confesso que doeu e não consigo olhar para algum lado.
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Magoaram-me, já invisíveis na lembrança. Bastas de ali ter sido. Esquecidas, porque olhei para algum lado.
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Na verdade, vejo-me em dois caminhos – permanente reais e fantasmas – coisas desconhecidas, negações duma imprecisa certeza e inesperada lei, menos da intuição selvagem.
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Olhei para algum lado, não e sim pela janela do palpite.
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Alguém se enganou e isso doeu-me na memória.
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Uma dessorte de olhar para algum lado que não o para onde ou talvez.
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Nota: Tão boquiaberto e triste que o texto vai infantilmente chegado à direita.

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