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Há dias em que o meu futuro é um passado intido. Um sonho
dormente e circular como a insónia.
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As horas vão e o meu tempo sem se assomar. Ignorando-as de olhos,
alastram-se silenciosas por mim todo até desmaiar.
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Há dias que não valho o baraço para me erguer ou pendurar.
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A imensa claridade é de nitidez para lá da clarividência,
mas não vi e. Se soubesse, o optimismo crédulo cegar-me-ia.
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E ainda todos me juram ombro e amparo. Nas minhas costas
leio as minhas costas, pois os dias e os dias-depois-dos-dias cansaram-me o
amor-próprio e morreram-me a esperança.
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Sim, cego teimoso.
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Sou calado meses de desilusão sem saber de culpado. Sou
quieto meses na vez de atrevido para cantar protestos.
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Sou alegria de falsa resignação. Sou soturno de natureza, de
cobardia e fé. Os olhos ardem de sal
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Há dias em que a mãe não me compra vida e a porta não tem
casa nem vista para viagem, igual a cubo de reclusão.
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Há dias para pedir que me falem descansa em paz.
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E eu descansasse.
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