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Disse-me da Síria e falei-lhe da Andaluzia. Contei-lhe de Arnulfo
de Metz, como todos, neto da Eva africana, de quem recebi sangue.
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Disse-me:
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– Tem os olhos verdes.
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Os meus olhos, às vezes, da cor do mel ficaram verdes,
porque às vezes são verdes. Quando uma coisa é, sempre ou ocorrendo, é-o.
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Disse-lhe de história e do ácido desoxirribonucleico como se
a tentasse prender nessas espirais.
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Não sei se o silêncio pertence à vitória ou à derrota.
Esperei por nada acontecer e não aconteceu.
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Pensei:
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– Como pode a inintimidade presenciar a revelação dos meus
olhos verdes?
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Acompanhei-a e abri-lhe a porta do Adenauer. Baixou o vidro
sorrindo e subiu-o, começou a chover. Há instantes em que o tempo-local é
subitamente a preto e branco e fica.
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Ouvendo o Mercedes deixando-me, fiquei vertical, com os braços
pendentes e paralelos, ensimesmado porque me viu os olhos verdes. Nem todos os enigmas
têm chave e janela.
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É mais fácil desenhar a linha do que a encontrar. A Terra é
redonda, nunca se acaba um caminho.
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Olhando a noite, num lugar em silêncio luminoso, aspirei um
lume:
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– Qual é a cor do céu nocturno?
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Negro ou azul, não compreendo uma fotografia. É um tempo, vinco
na memória.
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– Como se pára o que está parado?
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Sem me conhecer falou-me do verde e não tive coragem de lhe
dizer que era segredo nem da minha cabeça acelerada nem do passado onde ficou
alguém sabendo da confidência.
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O tempo e o horizonte diluem e esgotam, a fala tem a sua
sentença. Uma ocorrência sem retrato é um rumor. Aos boatos se contrapõe a
surdez e o repouso.
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Quem não mos viu verdes deixe falar, diga que é alvoroço e
acredite se desejar. Não espere graça, as revelações não têm datas adiantadas.
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Estátua à chuva por tempo, regressei como se voltasse da espaçonave
para onde fui levado seduzido – mas sem memória – quando a luz dos faróis
comprovaram a noite e o fim.
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