digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, maio 10, 2017

Questões alquímicas

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Só na biblioteca das janelas grandes, com as portas trancadas e o pêndulo imparável do relógio-de-pesos, pensou na utilidade da alquimia.
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A poesia e o segredo não satisfazem, por isso para as pausas para enganar o tédio e o sono se inventou a ocultação sábia dos mistérios. Agradável e familiar, o bálsamo do cheiro da cera desce ali ao palato, uma fome de pensar que só a cogitação sacia.
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Qual a utilidade da alquimia?
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Do metal ordinário fazer ouro é compreensível, é sonho dos pobres e não sacia os infelizes dos gananciosos. Aos primeiros devemos oração e aos segundos muitas mais.
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O elixir-da-eternidade, se não matar antes – e a morte nem existe – pelo corpo do mercúrio, é um sal que não tem água para o levar. Para quererá alguém mais dias se os pode ter livre despido do corpo.
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Resta a procura pela criação da vida a partir de alguma coisa sem espírito. Se um espermatozóide e um óvulo resolvem, o homúnculo é atracção de extravagância abominável.
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Veio o meio-dia e fome antecipada ao hábito. Desfechou com as chaves e sentou-se com as pernas esticadas e os pés num banquinho de veludo bordado e muito gasto, podia alguém o chamar para a mesa.
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Lembrou-se com alegria sonolenta do privilégio de não ter tempo nem pouquidade do ouro, de saber da eternidade e não lhe vibrar o desejo de deixar o seu sangue em herança natural.
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O Sol que se assomou à janela fechou-lhe os olhos sem o adormecer, deixou-se a sonhar com faisão e vinho erudito pelo tempo. Chegou-lhe ao colo um gato.

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