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Só na biblioteca das janelas grandes, com as portas
trancadas e o pêndulo imparável do relógio-de-pesos, pensou na utilidade da alquimia.
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A poesia e o segredo não satisfazem, por isso para as pausas
para enganar o tédio e o sono se inventou a ocultação sábia dos mistérios. Agradável
e familiar, o bálsamo do cheiro da cera desce ali ao palato, uma fome de pensar
que só a cogitação sacia.
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Qual a utilidade da alquimia?
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Do metal ordinário fazer ouro é compreensível, é sonho dos
pobres e não sacia os infelizes dos gananciosos. Aos primeiros devemos oração e
aos segundos muitas mais.
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O elixir-da-eternidade, se não matar antes – e a morte nem
existe – pelo corpo do mercúrio, é um sal que não tem água para o levar. Para quererá
alguém mais dias se os pode ter livre despido do corpo.
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Resta a procura pela criação da vida a partir de alguma coisa
sem espírito. Se um espermatozóide e um óvulo resolvem, o homúnculo é atracção
de extravagância abominável.
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Veio o meio-dia e fome antecipada ao hábito. Desfechou com
as chaves e sentou-se com as pernas esticadas e os pés num banquinho de veludo bordado
e muito gasto, podia alguém o chamar para a mesa.
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Lembrou-se com alegria sonolenta do privilégio de não ter
tempo nem pouquidade do ouro, de saber da eternidade e não lhe vibrar o desejo
de deixar o seu sangue em herança natural.
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O Sol que se assomou à janela fechou-lhe os olhos sem o
adormecer, deixou-se a sonhar com faisão e vinho erudito pelo tempo. Chegou-lhe
ao colo um gato.
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