digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, maio 19, 2016

Se uma brisa

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A inércia e a gravidade equilibram-me. Se tivesse uma vontade, .
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Tenho quarenta e seis anos e não sei o que faço aqui.
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Amei as mulheres que tive de amar. Amei demais e amei demasiadas. Talvez seja a mesma coisa ou causa e consequência.
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Gastei o dinheiro que tive. Desta vida não levarei nada e não terei.
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Soube da bondade e estraguei. Podia ter sido bondoso e não fui. Podia ter sido inconsciente e não fui.
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Envergonho-me de muita coisa e pediria perdão se conseguisse encontrar as pessoas. Tanto me faz das vergonhas que passei por desamor de outros, façam as suas contas, faço as minhas. Amor-próprio não tenha. O orgulho brilhou, mas resta lama. A soberba alimentou-me, tenho fome.
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Fui sempre quem sou. É da minha natureza ser outro, que valha a pena ou tenha o meu verdadeiro préstimo.
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Não minto e nunca roubei. Enfrentei por outros e fiquei só, mas que façam as suas contas, faço as minhas.
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Nada me prende, nem mesmo uma corda que sustente o que me resta. Se tivesse uma corda, . E soubesse fazer nós, tivesse um tronco robusto duma árvore.
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Se tivesse nitroglicerina trataria da cabeça e não do coração.
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Tivesse uma brisa de vontade, enfunaria a vela da barca de Caronte.
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Um lençol, uma vela, uma corda para a fuga.
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Tenho quarenta e seis anos e resto.

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