digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, setembro 02, 2015

Normandie

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Esteve anos atracado numa parede do meu quarto. Tinha tudo: charme e documentários cinematográficos a preto-e-branco, senhoras da primeira classe e seus chapéus, famílias aborrecidas e gajos vestidos com roupa enxovalhada e sapatos estragados. Tinha um comandante distante e autoritário e empregados de mesa vestidos como empregados de mesa. Tinha fumo negro e vapor translúcido, tinha o silvo e o ronco, o vento salgado e os perdigotos do Atlântico. Tinha a bandeira de França e a do país que inventei quando tinha dez anos. Nele viajavam artistas plásticos milionários refeitos das misérias, burlões encantadores, devassas bem casadas com cornudos joguetes das amantes… Qual é a cor da água rasa? A lâmina cria um bigode pequenino e elegante, tão pequenino para tão grande navio.

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