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Esteve anos atracado numa parede do meu quarto. Tinha tudo:
charme e documentários cinematográficos a preto-e-branco, senhoras da primeira
classe e seus chapéus, famílias aborrecidas e gajos vestidos com roupa
enxovalhada e sapatos estragados. Tinha um comandante distante e autoritário e
empregados de mesa vestidos como empregados de mesa. Tinha fumo negro e vapor translúcido,
tinha o silvo e o ronco, o vento salgado e os perdigotos do Atlântico. Tinha a
bandeira de França e a do país que inventei quando tinha dez anos. Nele viajavam
artistas plásticos milionários refeitos das misérias, burlões encantadores,
devassas bem casadas com cornudos joguetes das amantes… Qual é a cor da água
rasa? A lâmina cria um bigode pequenino e elegante, tão pequenino para tão
grande navio.
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