digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, julho 29, 2015

Fazer Nova Iorque

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Não seria capaz de desenhar Nova Iorque recorrendo a outra coisa que não riscos – vi. Corre-se, o céu é riscado e gatafunha-se a relva de Central Park. Uma multidão de riscos atravessa as zebras e a cocaína e também o pudor. Num papel, amontoados e desconexos, bem vincados, os algarismos da sessão de NYSE e os de orgasmo ou impotência do Dow Jones e do NASDAQ 500. No final, o corretor fita melancolicamente os valores, mais velhos e escritos suavemente a encarnado, dos fechos de Londres, Frankfurt, Paris e Milão. Que se lixem – e até amanhã – os mercados asiáticos. Risca-se a lápis, no cartão reciclado da base dos copos dum bar, as cervejas bebidas como massagem. Nas conversas ninguém diz dos jactos que mudaram o mundo. Tudo diferente, até a quinta-feira negra de vinte e nove. Eram de riscos e orgulho. Com três riscos se desenham N e Y.

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