digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, julho 29, 2015

Corneta-acústica

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– A casa é grande, mas a vizinha de baixo é muito surda. Ouve-se aqui a novela.
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– O quê?!
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– Muito surda.
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– Não percebo... o quê?!
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– Muito surda.
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– Ai, estou mesmo surda...
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– Muuuiiito suuurda!
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– Não consigo entender. Diz mais de vagar.
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– MUITO SURDA!
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– Ai, não consigo mesmo…
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– Oh! MUITO SURDA! MUITO SURDA!
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– Não é por gritares que vou ouvir… diz lá devagarinho para ver se entendo.
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– (…)
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– Ai, diz lá...
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– (Deus me dê paciência) (...)
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– Ai, Jesus. Diz lá. Tens de ter paciência comigo.
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– M-u-i-t-o s-u-r-d-a.
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– Quem é que é muito surda? Eu sou muito surda? Pois sou.
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– A minha vizinha de baixo.

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