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O Acordo Ortográfico – coisa que soa a tratado de capitulação
– é uma rendição incondicional em que todos perdem e não porá fim à guerra inexistente. Pode um Governo
decretar que a treze de Maio será parido o aborto linguístico, mas um aborto é falecido.
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Não só o pão mata a
fome. Tenhamos todos os vegetais, fungos, carnes e peixes servidos às
mesas da escrita. Pode o homem erguer arranha-céus, mas Babel não conseguirá. Nem esta, mais pequena, porque a areia da argamassa é salgada, porque chegou por mar. A pequena Babel cairá antes de.
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Confesso que defendi o obviamente
indefensável, mas porque duzentos milhões. Um acordo ortográfico será sempre uma ditadura moralista e a
minha língua é promíscua, amo-a leviana... fez, faz e fará meninos pelo mundo.
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Porque lemos castelhano e entendemos, porque lemos italiano
e entendemos, porque lemos catalão e entendemos, porque lemos galego – irmão de sangue e leite – e sentimos, porque lemos leonês e dizemos mirandês… e até
francês, por que haveríamos de não compreender a escrita em português?
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Triste quanto um casamento que já na boda se sabe das infidelidades.
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Roda mundo e a água e ventos e são. O rio será delta, não
estuário, porque somos órfãos de latim, a quem lhe morreram os pais, os avós e há muito tempo viemos todos de África.
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A treze de Maio nenhuma azinheira se iluminará num milagre-pesadelo. Os duzentos milhões não vão escrever ao modo dos doutores, tenentes do idioma, que têm bafo a caruncho e certezas de bafio.
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E a sintaxe? E a gramática, no geral? E a Fonética? A prosódia troça.
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A treze de Maio será obrigatório e a treze de Maio haverá guerrilha.
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Em bom português, vai para, porque a que te pariu, filho de
um.
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Nota: Oiçam lá como os camones brincam com a coisa, a língua.
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