digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, abril 28, 2015

E a Terra move-se

.
Disse-me:
.
– O João pensa demasiado.
.
– Como penso demasiado?
.
– Tem de se dar descanso, desligar-se.
.
– Como se faz?
.
– Tem de se impor regras e limites.
.
– O meu trabalho é escrever, às vezes desenhar e cozinhar. Como posso desligar-me? Estou sempre a pensar, porque estou a criar… emendar, retocar, refazer, lembrar, experimentar, desistir, arrepender-me, recomeçar, reduzir, reutilizar, reciclar.
.
– O João tem de conseguir. Tem de se dar descanso…
.
Fiquei surdo e os olhos apenas vidros.
.
A faca da cozinha corta a melancolia e o tédio. Cabidela, desenho sanguíneo e poema de palavras esvaindo-se ao ponto final.
.
– Está a ouvir-me, João?
.
– Sim, sim… estava só a pensar. A pensar no que me diz. Faz-me sentido. A ver se consigo.

Sem comentários: