digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, outubro 16, 2014

Lume

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Disse-me ela:
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– Aqueceste-me a boca e incendiaste-me o corpo.
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Não lhe disse nada e ela continuou.
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– Preciso dum pouco de frio para voltar a aquecer.
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Fui lavar os dentes com pasta dentífrica de menta.
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Disse-me:
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– Não percebeste. Preciso de me apaixonar, só o amor não basta.
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Deitado na cama, acendi um cigarro. Sem dizer, levantei-me, vesti as cuecas e a roupa, e saí.
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Ligou-me mais tarde a dizer que não tinha percebido.
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Respondi-lhe:
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– Se a menta não te arrefece e o lume do tabaco não te aquece, que farei da minha vida para te não perder?
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Fez-se um silêncio longo. Desligou a chamada.
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No dia seguinte não lavei os dentes e deixei de fumar.
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Mandei-lhe uma mensagem a contar.
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Não voltou. Não insisti.
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Sei que começou a fumar.

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