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Sei de ti o que nem suspeitas. Direi, talvez ainda hoje,
talvez já agora. Fica para depois, para que a curiosidade te salive a mente,
como faz a comida quente posta diante dum faminto.
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Digo-te que saio de casa e chego à porta donde moras. A
minha mão carente de ti ultrapassa a madeira e abre o trinco. Levito, por
necessidade, desejo e enamoramento. Nunca me ouviste.
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Sei a cor da luz da tua cozinha e com te estiraças a
descansar na sala. Oiço a subtil respiração e os suspiros, de tédio, de
conforto, de resignação, de atrevimento e de desejo.
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Por que não te vejo – perguntas-te-me.
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Tão desejoso que quase me volatilizo. Como um fantasma, sigo-te
e fico, conforme.
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Quando sobes a camisola, quando abres a camisa, quando
descais o vestido...
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As costas.
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As ancas.
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As pernas.
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O cabelo.
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A pele.
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A púbis.
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O peito.
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Deitas-te e delicio-me. Apagas a luz e proíbo-me de
suspirar.
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Ou adormeces ou.
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E quando ou, eu. Estremeço do coração à alma.
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Saio leve, voando etéreo, como balão cheio com hélio.
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Quando a casa chego, chego-me pensando que me
chego em ti.
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