digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, setembro 19, 2014

Nem suspeitas que os meus olhos

.
Sei de ti o que nem suspeitas. Direi, talvez ainda hoje, talvez já agora. Fica para depois, para que a curiosidade te salive a mente, como faz a comida quente posta diante dum faminto.
.
Digo-te que saio de casa e chego à porta donde moras. A minha mão carente de ti ultrapassa a madeira e abre o trinco. Levito, por necessidade, desejo e enamoramento. Nunca me ouviste.
.
Sei a cor da luz da tua cozinha e com te estiraças a descansar na sala. Oiço a subtil respiração e os suspiros, de tédio, de conforto, de resignação, de atrevimento e de desejo.
.
Por que não te vejo – perguntas-te-me.
.
Tão desejoso que quase me volatilizo. Como um fantasma, sigo-te e fico, conforme.
.
Quando sobes a camisola, quando abres a camisa, quando descais o vestido...
.
As costas.
.
As ancas.
.
As pernas.
.
O cabelo.
.
A pele.
.
A púbis.
.
O peito.
.
Deitas-te e delicio-me. Apagas a luz e proíbo-me de suspirar.
.
Ou adormeces ou.
.
E quando ou, eu. Estremeço do coração à alma.
.
Saio leve, voando etéreo, como balão cheio com hélio.
.
Quando a casa chego, chego-me pensando que me chego em ti.

Sem comentários: