Que os olhos se ponham em todos os lugares e que vejam antes
que a boca responda.
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Tristeza é loucura?
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A norma aborrece-me e sigo-a, ultrapasso-a, desvio-me e
regresso.
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Levo a sério o que escrevo, não me levam a sério.
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Aceito triste que me pensem louco, choro se me
considerarem tolo.
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A verdade é que pouco me interessa a vida. Dormir é bom,
porque a vigília é entediante.
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Desconheço-me função ou objectivo. Perdi, abdiquei, neguei e
derrotei-me.
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Não caibo e talvez não queira caber. Não me querem e quero
tanto que me queiram. Não sei se sou capaz de voltar a caber.
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Se me dessem o reencontro para que lado da cama iria dormir
e voltado para dentro ou para fora?
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Sou infiável, irreconhecível, esquecível, dispensável. Ou
então sou tolo, desfasado, banal, incompetente. Ou escrevo bem e nada ou
escrevo igual e nada.
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Fiz um caminho de vinte e quatro anos que me levou ao lado
de fora donde não consigo sair – entrar.
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Contando com hoje, são oito mil novecentos e cinquenta e
três dias de equívoco. Serão mais, o número crescerá por duas razões:
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– Falta-me coragem para ir, porque iria magoar e falta-me
coragem de voltar ao caminho primeiro.
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Desviei-me do caminho pela estupidez da estrada e com
inconformismo adolescente vi-me violentado, como vivesse num livro de
Kafka.
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Vivo sentado. Parado por inércia e cobarde por não me
ir para o alto e para debaixo de terra.
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Isto e tudo o mais é doloroso.
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Perder a vida antes de morrer.
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