digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, agosto 04, 2014

A glória dos loucos é triste

Que os olhos se ponham em todos os lugares e que vejam antes que a boca responda.
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Tristeza é loucura?
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A norma aborrece-me e sigo-a, ultrapasso-a, desvio-me e regresso.
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Levo a sério o que escrevo, não me levam a sério.
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Aceito triste que me pensem louco, choro se me considerarem tolo.
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A verdade é que pouco me interessa a vida. Dormir é bom, porque a vigília é entediante.
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Desconheço-me função ou objectivo. Perdi, abdiquei, neguei e derrotei-me.
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Não caibo e talvez não queira caber. Não me querem e quero tanto que me queiram. Não sei se sou capaz de voltar a caber.
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Se me dessem o reencontro para que lado da cama iria dormir e voltado para dentro ou para fora?
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Sou infiável, irreconhecível, esquecível, dispensável. Ou então sou tolo, desfasado, banal, incompetente. Ou escrevo bem e nada ou escrevo igual e nada.
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Fiz um caminho de vinte e quatro anos que me levou ao lado de fora donde não consigo sair – entrar.
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Contando com hoje, são oito mil novecentos e cinquenta e três dias de equívoco. Serão mais, o número crescerá por duas razões:
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– Falta-me coragem para ir, porque iria magoar e falta-me coragem de voltar ao caminho primeiro.
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Desviei-me do caminho pela estupidez da estrada e com inconformismo adolescente vi-me violentado, como vivesse num livro de Kafka.
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Vivo sentado. Parado por inércia e cobarde por não me ir para o alto e para debaixo de terra.
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Isto e tudo o mais é doloroso.
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Perder a vida antes de morrer.

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