Não me deixo dormir. De manhã
não me deixo acordar.
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Até lá, um cão possessivo e
omnipresente, como um polícia político, dorme ao pé de mim. Tenho saudades das
gatas.
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A televisão, confidente e
enfermeira, ligada só porque a tenho, como sempre, todas as noites, até
adormecer, até de manhã.
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Uma gata tem chorado nas
noites, a chamar por mim. Quase todas as noites e outra não se cala quando me
vê. A terceira chama à atenção cagando fora da caixa.
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O cão anda atrás de mim, como
uma mãe zelosa que persegue a virgindade da filha, primorosa e única.
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A gratidão do cão por o levar
à rua é menor do que as saudades que eu e as gatas sentimos. É patético e
consolador. Quendera me desse algum ar. Pobre cão, mulher gato-sapato de bêbado
e putanheiro.
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Não me posso fechar sem o
cão, porque gane e chora, como a mãe que vê o filho emigrar para a estranja. A mãe enlevada no seu filhinho-mais-que-tudo, que não tem mal nem
pecado.
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Um cão é um cão e os gatos
são pessoas. Gosto mais de pessoas quadrúpedes do que de animais. Mas gosto do
cão.
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O cão é o meu carcereiro e
sofro de síndrome de Estocolmo.
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Quando lhe vejo os olhos, com
a ternura eterna e grata dos cães, e observo o manear de cabeça... meu Deus,
como não amar este ser...
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Porém, as gatas e a saudade.