digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, julho 16, 2013

As gatas

Não me deixo dormir. De manhã não me deixo acordar.
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Até lá, um cão possessivo e omnipresente, como um polícia político, dorme ao pé de mim. Tenho saudades das gatas.
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A televisão, confidente e enfermeira, ligada só porque a tenho, como sempre, todas as noites, até adormecer, até de manhã.
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Uma gata tem chorado nas noites, a chamar por mim. Quase todas as noites e outra não se cala quando me vê. A terceira chama à atenção cagando fora da caixa.
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O cão anda atrás de mim, como uma mãe zelosa que persegue a virgindade da filha, primorosa e única.
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A gratidão do cão por o levar à rua é menor do que as saudades que eu e as gatas sentimos. É patético e consolador. Quendera me desse algum ar. Pobre cão, mulher gato-sapato de bêbado e putanheiro.
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Não me posso fechar sem o cão, porque gane e chora, como a mãe que vê o filho emigrar para a estranja. A mãe enlevada no seu filhinho-mais-que-tudo, que não tem mal nem pecado.
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Um cão é um cão e os gatos são pessoas. Gosto mais de pessoas quadrúpedes do que de animais. Mas gosto do cão.
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O cão é o meu carcereiro e sofro de síndrome de Estocolmo.
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Quando lhe vejo os olhos, com a ternura eterna e grata dos cães, e observo o manear de cabeça... meu Deus, como não amar este ser...
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Porém, as gatas e a saudade.

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