Os dias claros, dias de ócio na cidade velha. A janela aberta e a entrada do rio na casa, pela brisa e pelo azul.
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Se tiver ânimo assomar-me-ei à janela para contemplar telhados e os gatos em suas vidas. O ruído das ruas na cidade velha é a música da cidade.
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Por esta altura costuma haver nêsperas nos quintais. Limões há todo o ano. Alguns locais têm figueiras com seu aroma doce. Coisas da cidade velha.
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Não me interessam os eléctricos, agora são mentirosos, com as portas automáticas e luzes de pisca-pisca. Sem câmbio do espaço de condução, o guarda-freio já não faz rodar o trólei.
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A cidade velha vai morrendo sem que uma nova e asseada se vá mostrando. Lisboa está um subúrbio de gente feia.
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Esta noite sonhei em alfamês. Provavelmente também já quase morto. A cidade velha vai morrendo.
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O clima mudou e os dias claros… pouco me interessa nesta cidade em agonia. O rio não tem navios, só paquetes e os cais estão fechados aos passos de todos. O Martim Moniz deixou de ser Lisboa. E o largo de São Domingos. E o Rossio.
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Os dias claros na cidade velha, dias de tédio e tristeza. Guardo-me com as gatas e tento dormir. Em sonhos ainda há dias claros e de ócio. Lisboa é Lisboa e não este subúrbio de gente feia.
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