
Preciso-te. Com a boca toda. Preciso-te como se no amanhã pudesse não caber. Como se em toda a tristeza não tivesse onde chorar. Se o Natal não fosse também brilhar de olhos de tristeza…
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Lembro-me naquele dia todo negro me cantares flores, com as tuas mãos ausentes e o teu corpo também. É-me igual que não me ames, o teu amor existe no espaço onde o tempo não passa ou nem existe. Lugar de matemática pura e de física intangível. Tenha ou não luz.
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Possa ter um amor novo. E que os lençóis lavados e imaculados possam ser outro sudário de Turim. Iluminado por afectos e desejo. Um corpo nu e belo de mulher amada em marca-de-água. As noites todas, e uma a uma todas, de ansiedade da promessa.
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Possa ter um amor novo e o teu também. No universo infinito há-de haver um universo, ainda que infinitamente mais pequeno, só para te ter ainda. Não num planeta pequeno, nem numa anã branca. Mas fazendo amor como o pulsar dum quasar.
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Possa ter um amor novo. Digo-o lamentando porque já não tenho o teu. Às vezes nem sei das suas memórias. Arrumadas, lembro-me só que as tenho. E sei o que dizem, por isso quero-as escondidas.
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Quendera não estar ainda e agora a escrever-te saudades de amor. Quendera fosse já um rapagão de amores feitos. Quendera pairar como uma ave sobre o mal e a doença do amor. Quendera, quendera.
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Felizmente a tua ausência e memória fazem-me companhia. Assim tenho com quem passar o Natal, esquecendo-me que não tenho ninguém com quem o passar.
1 comentário:
possas ter um amor novo. doce, como colheita tardia. beijo-te, poeta.
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