digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, setembro 06, 2010

Verbo ter, conjugando sem ter

Tenho na pele e nos lábios a sensação de ter tido por uma noite. Uma só noite. Uma só bastou para que saciasse a curiosidade e me enganasse os afectos. Uma festa de carne pode transformar-se numa ilusão.
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Já noutra noite sonhei-te. Completamente nu perante uma rua de gente anónima. Declamava amor em poemas e tu ainda vestida ouvias-me sem corar. Estava envergonhado e contudo indiferente aos terceiros.
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Aflito percorri caminhos-de-ferro a pé, fugi de hordas que me assaltavam. Fugi para chegar ao pé de ti. Embarquei em comboios por terras estrangeiras, contornando curvas de rio e de nível, vi declives com vinhas. Cheguei a ti numa gare escura, de noite, numa cidade desconhecida. Mas cheguei a ti.
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De tanto te querer… desencarnei por minutos e entrei em ti. Tão profundamente em ti que trago nos cabelos o teu cheiro. Nas costas as marcas das tuas mãos suadas. Amei-te corpo e conheci-te íntima.
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O meu peito não tem coração, mas memória. Marcados a ferro, os monogramas de quem amei. Há arranhões de esgrima dos afectos. As cicatrizes ainda doem. Quero-te em desesperança.
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Como pude ter-te por uma noite se não sei amar? Só faço amor amando. Não me fazem sem mo dar. Não o faço de coração cerrado. Tive-te, porém, denso e quente. Pesado e húmido. Animal em ternura.
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Como pude?

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