Tenho uma musa nova. É pequenina, porque é pequenina. Tenho um amorzinho pequenino como um bonsai. Um dia a árvore será centenária, mas não sei se será ainda bonsai.
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Quando estou só com ela dou-lhe banho. Embrulho-a numa toalha seca e macia e deito-a confortável na cama. Depois, como antes, envolvo-a num desejo cordato no gesto e infernal na alma.
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Toda a força da minha abstinência está concentrada na fogueira do meu novo amor. Os incêndios nascem das chispas. Os meus do luzir inapropriado e inoportuno, do desassossego. Toda a minha abstinência faz amor com a nova musa.
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Sou feiticeiro aprisionado num corpo que não me deixa voar. Como um vampiro preciso de força vital para viver. Esta minha nova musa, tão tenrinha e feliz, é água doce na torreira do desejo. Mas também gasolina em incêndio.
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Não são suspiros que me traz, mas a fantasia dum namoro e cama. Quero-a como cordeiro sacrificial. Sempre que escrevo tenho-a nua querendo-me, de corpo quente e boca húmida.
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É um amor pequenino. Um prado com mimosas. Nele me estico e adormeço, acordo saciado e penso morrer. Queira um dia o consiga, partilhando os mesmos lençóis.
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