digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, setembro 11, 2010

Na ponte

A miúda intangível está sentada numa ponte com os pés a levitarem no ar. A brisa desenha-lhe os lábios em posição de sorrir. A paisagem ilumina-lhe os olhos e o rio reflecte-se-lhe no nariz e maçãs. Os cabelos como sempre são indisciplinados, mas não insolentes.
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Não passa duma miúda. Tem na cabeça todo o espaço preciso para uma vida. Por enquanto só guarda felicidades simples e descobertas dos primeiros amores.
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Como um rio, já saiu do leito, mas ainda sem as angústias de dilúvio que um só lenço não chega para saciar. Dores talvez, mas não as tem como quem herda afluentes de tristezas.
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Ainda tem o curso tão curto e sóbrio, que um velho navio não o pode navegar. É rio de cascata. Rio de cama. Rio de desejo, semente dispersa em pele e lençóis.
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A vê-la, cá de baixo como quem venera uma deusa, imagino-me tocando-lhe os pés suspensos no ar. A minha boca voa até onde a roupa já não tapa, percorre-lhe pernas e seios e fonte. A sua boca em êxtase que espere pelos beijos e gema pedindo que a tome.
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Não me vê. Não me sente. Não me quer. E eu, contudo, tão perto imaginando-a minha. Tenho inveja do Sol, do vento, da água e de tudo o que lhe toca. Ela voando e eu aterrado.

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