Quero desapaixonar-me. Abdico destes tremores e gelatina no abdómen e pensamentos obcecados. Comigo não são borboletas no estômago, são aves brincando no ar.
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Amo ninguém, mas amo. Derramo amor pelos lençóis em que durmo. Sem fazer amor, suo noite fora, desejando uma pessoa inexistente.
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Não amo uma ausente. Amo a infinidade do zero. Sonho com arranjos florais sem destino. Enlevo-me com todos os olhares de doçura. Os toques suaves de pele, os silêncios de encantamento.
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Deitar fora todo este temor. Abandonar todo este tremor. Estou capaz de cortar os pulsos por desassossego. Não aguento os suores, as esperas, as efabulações, os receios, os desejos, as angústias, as horas, os sonos, os sonhos, os momentos felizes passados, os momentos felizes por vir, a primeira noite, a outra a seguir, e a outra, e a outra e a outra.
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Há quem ame e não seja correspondido. Há quem deseje. Há quem seja correspondido no amor. E na paixão. Há os que amam viúvos. Há os que amam fantasmas de pessoas vivas. Amo ninguém. Desejo ninguém. Mas, mesmo assim, amo.
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Amo de loucura como todos os apaixonados. Fervilha-me o sangue e sinto ansiedade pelo momento em que, por fim, estaremos juntos. Não tenho paixão física. Nem tão pouco espiritual. Não tenho enlevo intelectual. Paixão: infinito ama zero. Zero não pode amar infinito.
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