digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, agosto 05, 2010

Nostalgia pungente, persistente. Um texto infeliz, no género, no modo, no conteúdo, no objectivo, no resultado final.

Sou nostálgico. Nos sentimentos sou nostálgico. Consigo amar, amo todas as que amei, e ao mesmo tempo, nas evocações do tempo. Sofro com todos os sofrimentos passados, como se nunca tivessem passado. Sinto vergonhas antigas e arrependimentos longínquos.
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Sempre nostálgico, sinto diferentes nostalgias. Não duma época, mas de vários momentos, ao mesmo tempo. De várias pessoas. Da tristeza à felicidade. Riso tenho tido pouco desde há uns anos. A felicidade não me bate à porta, apesar das gargalhadas.
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Vivo entre o vermelho escuro de Bordéus e o lilás, no ameaço de negro, na promessa, nunca cumprida, de laranja. Nos desertos, do branco e do negro. Dez anos tem muitos dias. Alguns de alegria, de tonalidades felizes, antecedendo o firmamento nocturno, boreal.
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Não sei se trocando beijos. Não sei se por engano. Não sei se por engano de ilusão. Não sei se de boca fechada. Não sei se de propósito. Não sei se por desgosto. Quase sempre em solidão. Quase de certeza em solidão. Nostalgia.
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Quando me perdi de ti ou te perdeste de mim. Dias de pungência, da dúvida, da injustiça, da incompreensão, de desaire, de fim, de tudo, de nada. Toda a música posta no lixo, amarrotada. Tanta música sem préstimo, contaminada por ti. Música ensopada em nostalgia.
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A agulha grossa de croché escarafunchou. O sangue procurou vida nova. Na surpresa, esta música. Na nostalgia dos dias antigos, mas purgada de ti. Nova música, como uma sala onde nunca estiveste. A mesa onde nunca comeste, que virginal se guardou até à desistência. Não por amor primeiro. Não por amor maior. Mas por amor de desistência.
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Desisto de nostalgias. Desisto de ti. Mas a nostalgia não vai e tu também não. Voltas nos sonhos quase diários. Regressas aos espaços e às coisas. Invades as memórias de outras. Deitas-te na cama, esteja eu só ou acompanhado.
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Nostalgias. Amo-as a todas, mas mais a ti, amor maior. Amo-te nos dias vagos, nos dias úteis. Nas horas mortas e nas de sonho. A música que não é tua, os lugares que não são teus, têm-te, porque neles noto a tua ausência. Nostalgias.
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Amo-as a todas e ao mesmo tempo. Viúvo de todas, mas só beijando um fantasma.

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