digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Giraldo sem pavor de ser diferente





















O Alentejo é uma planície… ou antes, uma peneplanície. O Alentejo também tem montanhas... e rios. O Alentejo não é todo igual. Há o alto, o central, o de baixo e o litoral. Antigamente era o celeiro de Portugal, agora é uma das adegas do país. E agora digo eu a gozar: o Alentejo dá-nos também a sombra.
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Aliás, este início é todo a gozar, no sentido de que nada é novidade. Ou será que é? Bem, estas palavras redondas (porque não têm por onde se lhes pegue) têm um sentido, uma lógica e um objectivo.
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Já perdi a conta às vezes que escrevi a palavra Alentejo. E não apenas aqui, mas na vida. Há tantas não sei a quantas ando. Não recordo exactamente, mas talvez já tenha esgotados, as frases, as palavras, as letras, os temas, as abordagens, os objectivos, sei lá!...
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No entanto, desta vez há coisa nova a dizer. E a coisa nova não é totalmente uma novidade: o Alentejo não é todo igual. Não é todo igual nos vinhos. Em primeiro lugar o Alentejo vinícola não cobre toda a região, antes se faz de pequenas denominações... e vão sete (seis e mais o regional). Depois, dá-se a curiosidade do Alentejo litoral ser Terras do Sado, apenas no espaço dos concelhos do distrito de Setúbal... se isto tem lógica?!
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Pois, mas a diferença que quero contar é outra. É mais subtil, menos conhecida. É que há vinhos alentejanos e vinhos alentejanos. Não afirmo que sejam todos iguais, mas há famílias; a dos internacionais, a dos tradicionais, as de perfil ao gosto português moderno, talvez do português pós-moderno... Sei lá!
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Onde quero chegar? Ao sem pavor. Sim, ao Giraldo. Não o cavaleiro conquistador medieval, mas ao vinho. É que é diferente do que habitualmente se faz na maior região portuguesa. É de propósito. É assumido! O Giraldo é um vinho de autor e de lavrador. É feito ao gosto de quem o faz. Talvez seja um hobby que se partilha com os outros. É fino. É subtil. É educado. É interessante e conversador. Provei o de 2001. Ah! É tinto... já me ia esquecendo de dizer.
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Já a pensar no Verão
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O Ribatejo é uma terra orgulhosa. Já terei escrito isto aqui? Definitivamente ando à nora, a idade não perdoa e ainda agora devo estar abaixo da média da esperança de vida (infelizmente continuo sem ser rico).
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Ah, sim! O Ribatejo é uma terra orgulhosa, de gente orgulhosa – seja ela plebeia ou fidalga. Acho bem! Num país de pequeninos, de desculpazinhas, de favorzinhos, de cunhazinhas, de remunguicezinhas e paciênciazinhas acho bem que haja quem seja orgulhoso e ponha o peito para a frente e avance destemidamente.
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A Quinta de Lagoalva de Cima é casa de boa gente, que tem todas as razões para ser orgulhosa dos seus vinhos (e cavalos). Modéstia e orgulho não são sempre antónimos, por vezes são complementares. Garanto que ali há respeito pelos enófilos e imaginação.
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A primeira vez que provei um Talhão 1 julguei ser feito com sauvignon blanc, tal era o aroma e paladar a fruta tropical. Porém não tinha... parecia bruxedo. A casta acabou por entrar no lote numa colheita posterior.
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Agora é Janeiro, tempo tradicionalmente frio, mas que anda primaveril. Pois então, não é só tempo de tintos ou brancos estagiados em madeira. Por que não um fresco e estival branco. Aposto num Talhão 1 já a lembrar Maio e Junho.
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Bem bebido.
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Andava eu atrás dela. Ela fugia-me. Voltava à carga. Ela fugia-me. Insistia. Ela fugia-me. Fiquei parado num sítio e ela, de tanto fugir, deu uma volta completa e dei comigo com ela nos braços, caíu-me ao colo. Que bom!
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Ela era de tinto, nascida em 2005. Passei as passinhas para a apanhar. Por isso soube-me melhor. Muito melhor. Isto sintetisa e e refina a excelência conhecida e reconhecida a esta delícia do Alto Douro, do altíssimo Douro, ali em Foz Coa, onde o rio é tão bonito e a paisagem já diferente.
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Se bem me soube é porque só poderia acontecer. Estava traçado nas minhas linhas do destino, no meu signo e ascentente (por acaso o mesmo), nos búzios, nas chávenas e nas cartas. Por isso, apesar da dificuldade este tinto veio ter comigo.
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Mas meu Deus, o que tive de penar. A bem dizer, tive de meter uma cunha para a conseguir. Lá fiquei a dever mais um favor a quem ma vendeu, e já são tantos. É que este vinho vai-se num instante. Bendito Quinta do Vale Meão (edição de 2005), que alegria dás às gargantas!...

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